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Ecos do corpo: a hiperatividade na sala de aula

rosa hiperativo - interni

Temos vivido uma chuva de diagnósticos sobre hiperatividade. Gostaria de chamar a atenção para o corpo da criança e os ecos que emanam dele. A forma hiperativa que algumas crianças se manifestam denuncia a forma como a família implantou ou não as bases de dar e receber, e como a escola está lidando com a educação que não se resume à cabeça, mas a uma educação de corpo inteiro.

A educação de corpo inteiro chamamos de Educação Psicomotora, pois é a educação hologramática, ou seja, que atinge todas as dimensões de aprendizagem e desenvolvimento, permitindo que a criança constitua uma base sólida para aprendizagem. Um dos elementos fortes desta educação é a constituição da imagem corporal.

A imagem corporal é um elemento básico indispensável para a formação da personalidade da criança. A própria criança se percebe e percebe os seres e as coisas que a cercam, em função de sua pessoa. Sua personalidade se desenvolverá graças a uma progressiva tomada de consciência de seu corpo, de seu ser, de suas potencialidades de agir e transformar o mundo à sua volta. Esta consciência acontece entre “sim” e “não”, entre dor e prazer, entre facilidades e limites, entre “posso” e “não posso”… Esta construção acontece inicialmente na família e depois na escola e outras instituições sociais. Hoje, consideramos a igreja e os templos espaços importantes de serem avaliados.

Na família, recebemos os primeiros conceitos e a forma de perceber quem somos. A mãe é detentora das possibilidades de nossos sonhos, pois ela pode ampliar nossas possibilidades ou aniquilar completamente a direção de nossa alma. O pai entra como aquele que nos levaria à expansão no mundo, mas no mundo atual estas funções psíquicas (maternagem e paternagem) estão muito confusas, alteradas e vividas de forma limitante.

A escola é o local onde a criança passa uma grande parte do tempo e nela realiza grande contato social. É na escola que a criança é exigida a aumentar o nível de concentração para aprender. É por isto que a hiperatividade fica evidente, quer dizer, quando ela realmente existe, pois, muitas das vezes, a escola “rotula” os alunos como hiperativos, ainda que, na maioria das vezes, eles não sejam. Com a facilidade de ofertar “ritalina”, remédio da moda, os processos de vida e o histórico da criança ficam esquecidos e são patologizados sem a devida compreensão dos significados que os ecos do corpo sinalizam.

Os professores, em sua maioria, realizam diagnósticos precoces e sem fundamento científico sobre os alunos que eles julgam hiperativos. Não cabe ao professor ou a escola fazer o diagnóstico, mas é possível observar o aluno e conversar com os pais para que um especialista seja procurado. O profissional de base para esta realização é o psicomotricista, que possui em seus estudos a compreensão da linguagem corporal e ajudar a compreender o sentido da hiperatividade e manejar com a família estes sintomas.

Freinet, exímio educador, informava que, ao trabalhar com a realidade da criança, com o conhecimento que possui de sua história de vida, os alunos não irão apresentar sintomas considerados patológicos. Pelo contrário, irão usar a energia constitutiva para focar em construções. Infelizmente, a escola atual é repetitiva, rotineira, desumanizadora e, portanto, pessoas hiperativas anunciam estas fraturas no sistema escolar. Criança aprende com “afetividade”,  conhecendo a si através de atividades de autoconhecimento, de “comunicação” onde a linguagem não é usada apenas para concretizar a verdade de um só. A linguagem ganha o sentido de comunicação com o outro, que passa a ser constitutivo da autoimagem e naturalmente desenvolve a “cooperação”, pois, satisfeito em si, olha para o outro em movimento de construção.

E, por fim, a “documentação” acontece porque um ser humano que possui um sentido de vida documenta sua história em fotos, cartas, mensagens e vivencia suas construções. Isto envolve o aluno em projetos significativos e processuais. Os quatro aspectos: afetividade, comunicação, cooperação e documentação são os aspectos que devem fazer parte de qualquer atividade pedagógica, em síntese. Se elas são usadas, não teremos alunos hiperativos, mas homens indo em busca de sua evolução. Aprender não é ato a ser imposto, é ato humano de transcender enquanto humano. Infelizmente, a maior parte das famílias obriga a criança a gostar da escola. O ato imposto gera alunos insatisfeitos e distantes do ato de aprender. Quando buscamos os motivos de um aluno ser hiperativo ou não gostar de estudar, vamos encontrar motivações vindas do eixo familiar e, sem esta análise, o sintoma hiperatividade não é sanado.

Proporcionar atividades variadas, dando à criança liberdade de escolha e de movimentos, é formar autores da própria história. Winnicot (1965) coloca o brincar como uma área intermediária de experimentação para a qual contribui a realidade externa e torna-se capaz de participar seu contexto e perceber-se como um ser no mundo. O brinquedo é oportunidade de desenvolvimento. Brincando, a criança experimenta, descobre, inventa, aprende e confere habilidades. Além de estimular a curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da concentração e da atenção. O lúdico é muito mais que uma atividade a ser desenvolvida na escola, é característica de um homem que está em busca de seu amadurecimento. Além disso, a ludicidade permite a reorganização psiconeurológica do aluno de uma forma extremamente elaborada.

 

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