Alda Baltazar mora no Recreio há 17 anos, desde os tempos que o bairro era bem mais tranquilo do que hoje. Antes de vir morar aqui, ela já colecionava os discos de vinil, chegando a ter uma coleção de 4 mil LP’s. Atualmente, ela está vendendo eles, mas conta que sempre fizeram parte da sua história de vida.
Você fez coleção de vinil há quanto tempo? Como começou essa paixão?
Eu tinha uns 15 anos, nos anos 70. Peguei minha mesada, entrei numa loja de eletrodomésticos e por acaso comecei a olhar as capas de LPs. Nessa época, a capa já dizia se o disco era bom, mesmo sem ouvi-lo, não tive dúvida. Era o Desire – Bob Dylan. Fiquei louca com a capa. O segundo foi o Presence do Led Zeppelin. Nunca errei nas escolhas pela capa.
Nessa época, nem sempre dava para ouvir antes de comprar. As publicações sobre rock ou música eram quase nenhuma. Rádios, só tinha uma ou outra na madrugada que tocava algo que não fosse popular.
Quando fiz 17 anos, arranjei o meu primeiro emprego, numa loja de discos, no centro da cidade, em São Paulo. A ideia era me atualizar em música – especialmente em rock, da maneira mais econômica. Ouvia música o dia inteiro, e me atualizava em todos os segmentos. (risos)
Não demorou para eu vir morar no Rio de Janeiro e não acredito no acaso, acabei indo parar numa grande gravadora multinacional, extinta CBS (hoje Sony Music). Foi um êxtase. Recebia tudo e ouvia tudo antes de todo mundo, antes do lançamento no Brasil. Não tinha internet, era ainda na época do telex (risos).
A partir disso, trabalhei em outras gravadoras multinacionais e nacionais, pude mergulhar em muitos e muitos segmentos musicais além do rock. A Mowtown – com os clássicos da soul music, aos movimentos mais contemporâneos pela Jive records.
Ouvi muita música africana como o Fela Kuti, todos os jamaicanos, todo o rock dos anos 80, o movimento de Ska pela Two Tone (Inglaterra), Punk rock, a MPB na época da Polygram. Até mesmo o Jazz, que eu adoro, à musica clássica através da Deutsche Grammophon. Foi uma experiência realmente incrível durante esse tempo áureo da indústria fonográfica que só enriqueceu meu conhecimento musical e a coleção de vinis.
Sua coleção chegou a quantos vinis?
Cheguei a ter 4 mil vinis. Pelo menos 40% era importada. A qualidade do material gráfico e do acetato e, portanto, o áudio em si, eram infinitamente melhores. Era uma experiência incrível todo o processo de abrir o celofane e tirar o vinil da capa, sentir aquele cheiro de vinil, analisar cada detalhe na arte da capa, encartes, acompanhar as letras. Quando era capa dupla, então, era uma viagem!
Lembro das capas do Rick Wakeman eram quase um livro de tantas imagens viajantes. As capas do Yes, o designer é o Roger Dean. Tenho uma litogravura dele original até hoje.Uma obra de arte. Meu apartamento na época era todo decorado com Picture discs (gravuras coloridas impressas no vinil).
Quais os vinis que você mais gostava?
Gostava das capas do Yes, Asia, Led Zeppelin, Pink Floyd, Deep Purple entre muitas e muitas. Eram capas viajantes e elaboradas.
Hoje, você está vendendo a sua coleção. Ainda que não esteja mais com ela, o que vai ficar na memória de todos esses anos em que colecionava os vinis?
Na verdade, estou com o coração apertado por me desfazer de uma boa parte dessa coleção. Faz parte da minha história de vida. Cada um teve um momento significativo. Porém, não tenho mais como ficar carregando esse peso a cada vez que tenho que mudar. Além do que o espaço ficou pequeno. Tenho que ser prática.
Qual o diferencial do vinil?
Todos (risos). A experiência é diferente. Hoje a música pode ser ouvida através de várias outras plataformas de mídia. No caso do vinil, é a tangibilidade e experiência que é o bacana. Você tem que usar todos os seus sentidos (olfato, visão, tato, audição). Enfim, fica agora a memória afetiva.
Você mora no Recreio há quanto tempo? O que mais gosta no bairro?
Moro no Recreio há 17 anos. Para falar a verdade, amo o Recreio. Cresceu muito, mas é um bairro especialmente lindo, com montanhas, praias e gente bacana e solidária.
Quais são as lembranças mais fortes do Recreio que você tem da época em que veio morar aqui?
Nem todas as ruas eram asfaltadas. Havia menos prédios e tinham muitas grandes casas. Minhas filhas iam tranquilamente sozinhas para escola de bicicleta. Hoje, não recomendo sair de casa distraidamente.
O bairro cresceu muito e tem fácil acesso para todos, o que é ótimo, mas sinto pena que estão sujando as praias. Mas acredito que uma boa campanha de educação e preservação poderá melhorar o comportamento dos visitantes de fim de semana.
O que a Utilità significa para você?
Desde que vim morar aqui, minha referência de serviços, escolas, restaurantes e farmácias sempre foi através de consulta à Utilità. Até localização de rua era através do mapa que vinha na revista. Ainda hoje uso muito para todas as consultas. É item necessário lá em casa.