Em nossa sociedade, por lei, os pais são responsáveis pela criação dos filhos até os dezoito anos e, consequentemente, acabam por influenciar diversos pontos na vida dos jovens, incluindo a questão da escolha profissional. No entanto, o sentimento, o cuidado, o carinho, costuma se estender para o resto da vida, não é mesmo? Por isso, duas perguntas não podem deixar de serem feitas: Como isso acontece e até que ponto essa influência é positiva?
Não é incomum que, quando um filho nasce, os pais se comprometam a fazer de tudo para que aquela criança não passe por todas as amarguras que viveram. Quem nunca conheceu um pai ou mãe que já tenha dito ou sentido isso? Afinal, são os responsáveis de darem todo o suporte para que a cria se torne um adulto pleno e bem sucedido, por mais que tal definição seja extremamente subjetiva. Nesse processo, ensinam valores pessoais e como se comportar em sociedade. No entanto, a maioria dos pais tende a criar certa expectativa a respeito de quão “bom” seu filho será. Um sentimento de orgulho é praticamente inseparável de um pai ao presenciar algo feito pelo seu filho que seja do seu agrado. Assim como os pais desejam todo o sucesso para seus filhos, estes buscam, além de terem uma boa vida, satisfazerem seus pais. Trata-se de uma relação simbiótica, que mesmo com a vida adulta, costuma persistir.
Na nossa cultura, segundo muitos estudos, o fator “trabalho” chega a ocupar até 80% do espaço na mente de uma pessoa. Mesmo que a carga horária seja de 9h as 18h, a pessoa dificilmente se desliga completamente do trabalho. Quem nunca se viu pensando no trabalho no engarrafamento ou em algum momento da tarde dedomingo? Além disto, tendemos ainda, como sociedade, em acreditar no conceito de “vocação”, que deve ser definida ainda na adolescência e que se estende para o resto da vida.
Na Psicologia estudamos dois fenômenos que se aplicam bem a esta situação: Projeção e Adolescência tardia. O primeiro caso se caracteriza pelo processo de “arremessar” para fora de si, neste caso para o seu filho, seus valores e ideias internas. Neste contexto, os pais sentem muitas dificuldades de ofertar opções muito diferentes das que consideram. O outro ponto tem a ver com a forma extremamente protetora, que principalmente as famílias latinas costumam construir suas famílias. A unidade familiar oriunda da proteção, se não for dosada, tende a super proteger o jovem, fazendo com que o individuo, já no estágio de adulto jovem, ainda se comporte e se sinta como um adolescente. Cabe ressaltar que não estou criticando o cuidado e o carinho, mas que, quando não se existe o equilíbrio, a criação se direciona para a própria família e não para o mundo, gerando dificuldades para este lidar com as situações da vida. Felizmente ou infelizmente, nem sempre a família estará perto para ajudá-lo.
Nessa situação, os pais devem apoiar seus filhos em suas escolhas, dando-lhes informações a respeito do mercado de trabalho, fazendo as perguntas pertinentes sobre a escolha profissional e quais dificuldades podem encontrar. No entanto, devem tomar muito cuidado com o fator da projeção. Pense que uma vontade ou frustração sua não pertence ao seu filho e qualquer pressão nesse sentido pode influenciar negativamente na escolha. Olhe a sua volta: Será que você nunca viu um pai ou mãe empurrando em seu filho a realização de uma carreira, porque simplesmente, lá no fundo, foi um desejo do próprio não alcançado? Além da questão da vocação… Vivemos em um mundo que muda a todo instante e as escolhas de carreira não são para toda vida. Podemos ver nas revistas e jornais casos de pessoas que mudaram de carreira e se sentem muito mais felizes. Por fim, este é o ponto principal: Mais do que qualquer carreira, o mais importante é ser feliz e isto é algo que todo pai/mãe quer para o seu filho.