“Eu sou muito crente nas pessoas. Se houver verdade, podemos superar todas as crises nacionais. O principal são os fatos reais e a cerveja.” Abraham Lincoln
Continuando nossa jornada pelo universo das cervejas, chegamos aos principais países produtores. Nossa primeira parada: a República Tcheca; um pequeno país no centro da Europa, cuja capital é a maravilhosa cidade de Praga. Conhecida por seu cristal, sua porcelana, danças e comidas típicas, mas sobretudo por sua cerveja. Ah, vale lembrar que o escritor Franz Kafka e o compositor Antonín Dvorak também são de lá. A história da produção de cerveja na República Tcheca começa no século XIII. A primeira cervejaria foi construída em 1118, em Cerhenice, porém desde 1101 os maravilhosos lúpulos de Zatec (Saaz na Alemanha) e Ustek eram enviados a Hamburgo. É considerada a maior produtora de cerveja do mundo e talvez a primeira a usar o lúpulo. Costuma-se dizer que, aqui, a cerveja “PIVO” é mais barata que água. A cerveja é tão importante para os tchecos que é usada em spas e terapias com banhos relaxantes. Motivo de orgulho, pelo qual lutam para provar ter o primeiro museu da cerveja, o primeiro livro publicado sobre o tema e a primeira Pilsner.
O início da fermentação da cerveja em Plzeñ (em alemão, Pilsner), na então Boêmia, é do século XIV, logo após a fundação da cidade. Era começo do século XIX, quando os moradores se revoltaram com a má qualidade e durabilidade da cerveja local, hoje extinta. Ponto de partida para o sucesso das cervejas Lager. Chamadas no Brasil de cervejas de “baixa fermentação”, graças a uma tradução mal feita para o português, pois o termo vem do inglês “bottom fermented”, fermentação de fundo. Com as baixas temperaturas, os fermentos acumulam-se no fundo, resultando em uma cerveja mais clara e transparente.
Com os cidadãos sedentos por cerveja, os ricos da cidade resolveram construir uma cervejaria de excelência. Por imposição, essa cerveja deveria ser mais clara e leve, além de ter maior durabilidade. Nascia a primeira cerveja pilsner do planeta e a mais popular do mundo! Para isso, contrataram o mestre-cervejeiro alemão Josef Groll, para trabalhar na primeira cervejaria da cidade, a Bürgerliches Brauhaus, “Cervejaria dos Cidadãos”. Uma das características dessa nova cerveja era o uso de ingredientes da região – entre eles, o lúpulos Saaz. Desse dia em diante, os cidadãos se acalmaram e os protestos pararam. A cor da nova cerveja fascinou a todos, bem na época em que os copos de vidro/cristal estavam sendo produzidos. Antes, a cerveja era servida em potes de cerâmica, metal ou pedra. O nome da cervejaria mudou para Plznský Prazdoj, mais conhecida por seu nome alemão, Pilsner Urquel. Que bom, assim fica mais fácil de falar! A Pilsner Urquel é a mãe de todas as pilsens, com um padrão que é copiado em todo mundo. Mais que uma cerveja, é um mito!
Para não ter confusão: pilsen é estilo, e lager é gênero. Uma cerveja pilsner é sempre uma lager, mas nem toda lager é pilsner. A Pilsner que consumimos no Brasil, em latinhas ou garrafas, é na realidade “standard pilsner”, embora tenha em seu rótulo “cerveja tipo pilsner”. Em 1785, na Boêmia, ao sul da República Tcheca, nascia a cervejaria Budejovický Budvar (maior rival da Pilsner Urquel), que teve seu nome mudado para Budweiser, jeito alemão de dizer que a cerveja vem da cidade de Budvar – como os alemães chamam a localidade de Ceské Budejovice (para facilitar a exportação, uma vez que fica mais fácil a leitura). Qualquer semelhança não é mera coincidência. Em 1876, a Anheuser-Busch (hoje, AB-InBev) registrou suas cervejas com o nome de Budweiser. Claro que isso deu início a uma longa batalha judicial. Um acordo foi selado e a Budweiser tcheca passou a ser vendida com o nome de Czechvar. Porém, em 2010, a AB-InBev perdeu seu último recurso, e foi impedida de usar o nome Budweiser na União Europeia. É também
em Ceské Budejovice que fica a cervejaria mais antiga da República Tcheca, a Budejovický Mestanský Pivovar, que produz a maravilhosa 1795, com seus rótulos colados à mão.
Todas essas cervejarias são abertas à visitação. Caso não queira ir tão longe, seguem algumas verdadeiras Pilsner que encontramos por aqui: Wäls Pilsen, Bamberg Camila Camila, 1795 e Pilsner Urquell.
“Ahoj”. Até logo!