“Por vezes, quando reflito na quantidade de cerveja que bebo, fico envergonhado. Mas depois, olho para o copo e penso em todos aqueles trabalhadores da cervejaria e nos seus sonhos e desejos. Se eu não bebesse esta cerveja, poderiam ficar sem trabalho e com os seus sonhos destruídos. Portanto penso: é melhor beber esta cerveja e deixar que os sonhos deles se concretizem, do que ser egoísta e pensar só no meu fígado.”
Babe Ruth
Depois de passarmos alguns meses conhecendo cervejas de outras pátrias, voltamos à terra Brasil! Ao chegar, sinto dizer que deu vontade de voltar. Tem sido difícil ser brasileiro, mais ainda carioca. Nos falta tudo: educação, saúde, segurança, entre outras coisas. Porém, nos falta algo que talvez pudesse mudar muito esse quadro: amor próprio! Aqui se faz e tem muita coisa boa! Para levantar nossa autoestima e mostrar ao mundo que essa gente bronzeada tem valor, bem-vindo ao nosso país! Em 5 de junho, foi comemorado o Dia da Cerveja Brasileira. Data criada para homenagear o catedrático dos mestres cervejeiros artesanais brasileiro, o catarinense Ruprecht Loeffler, dono da cervejaria Canoinhense, falecido em 2011. Hoje, temos muito a celebrar, nossa cerveja tem recebido prêmios em todo mundo, mudando a ideia de que cerveja boa tem que ser importada. Com vinho também foi assim, pouco a pouco estamos conquistando e brindando o mundo com nossos sabores. Em 2015, o World Beer Award, uma das premiações mais importantes que acontece todo ano no Reino Unido, premiou três de nossas cervejas e as consagrou entre as melhores do mundo. A mineira Wäls levou dois prêmios máximos, melhor Lager e melhor cerveja estilo Brut/Champagne. O terceiro prêmio máximo também foi nosso, para a cervejaria paulista Bamberg, com a melhor Altibier. Além delas, outras cinco cervejarias brasileiras foram premiadas, destacando-se a também paulista Urbana, que recebeu 5 medalhas na competição.
Porém, nossa caminhada até chegarmos nos dias de hoje foi longa. Mas somos brasileiros e não desistimos nunca (bem, precisamos lembrar disso a cada trem lotado, trânsito parado e escândalos de corrupção). Quando os portugueses chegaram ao Brasil, a nossa “cerveja” era o “Cauym” feita pelos índios e produzida até hoje. De milho ou mandioca, seu preparo é um tanto peculiar, o milho era cozido, mastigado e cuspido. O “Cauym” era depois cozido e colocado em potes para fermentar. A cerveja de verdade demorou um pouco a chegar as nossas terras, uma vez que os portugueses queriam privilegiar o seu produto: o vinho. Nessa época, a bebida alcoólica mais consumida no Brasil era a cachaça. O cenário começou a mudar quando D. João abriu os portos brasileiros, acabando com o monopólio português. Vale lembrar que o mundo estava em guerra e essa abertura beneficiou somente a Inglaterra, aliada de Portugal. O que nos leva a acreditar que a primeira cerveja a chegar por aqui tenha sido a inglesa. Era 1836 quando o “Jornal do Commercio do Rio de Janeiro” publicou a primeira propaganda de cerveja feita no Brasil. Antes os anúncios não mencionavam de onde vinha a cerveja. A produção em série começou quando o alemão Georg Heinrich Ritter, instalou sua pequena fábrica em Nova Petrópolis (RS). A parir daí, novas cervejarias familiares começaram a surgir em Joinvile (SC), Porto Alegre (RS), Niterói e Petrópolis (RJ). Essa cerveja era chamada popularmente de “Marca Barbante”, pois seu alto grau de fermentação produzia muito gás carbônico, e as rolhas precisavam ser “seguradas” por barbante para não correrem o risco de estourarem no rosto das pessoas. Em 1853, o alemão Heinrich Kremer fundou em Petrópolis a cervejaria Bohemia, que até hoje traz em seu rótulo o título de ser a primeira cerveja brasileira, o que vimos não ser verdade. Anos mais tarde, surgiu a primeira fábrica de cervejas com tecnologia para produzir cervejas Lager, a “Companhia Antarctica Paulista”, cujo nome faz alusão ao continente e homenageia a antiga fábrica de gelo de seu proprietário. Já no Rio de Janeiro, surgia a “Manufactura de Cerveja Brahma Villiger e Companhia”. A origem do nome tem várias versões, a mais bonita delas é a de que seu criador, o suíço Joseph Villiger, nutria grande simpatia pela cultura indiana, e o nome da cerveja seria em homenagem à deusa Indu. Daí em diante o surgimento de cervejarias em todo país foi de vento em pop, nascendo a Cerpa, a cervejaria Kaiser (hoje controlada pelo grupo Heineken), a Belco, Xingu e tantas outras dedicadas, assim como a Antarctica e Brahma, à produção de cervejas “standard lager” (estilo mais comum e difundido no Brasil e no mundo, por serem leves, refrescantes, e levarem uma grande quantidade de adjuntos cervejeiros, com o objetivo de reduzir o custo de produção, sem sabores, aromas e de baixo amargor). Entre as cervejas de massa, a Heiniken se orgulha por usar apenas os 4 ingredientes básicos para a produção de cervejas: água, malte, lúpulo e levedura. No começo, seu sabor mais amargo não agradou muito os brasileiros que não estavam acostumados com seu caráter lupulado. Nem assim a Heineken mudou sua postura, aliás, nem pensou nisso. Que bom! Hoje a Heineken é a cerveja preferida entre os degustadores brasileiros quando se fala em cervejas de estilo “premium lager” populares. O cenário da cerveja brasileira hoje é maravilhoso e, como tudo que é bom, custa caro. As prateleiras dos supermercados estão repletas de cervejas brasileiras, com preços proibitivos para a maioria dos brasileiros. As Colorado, Baden Baden, Wäls, Bamberg, entre outras, não são para todo dia como costumo dizer. Assim como o país, a história da cerveja no Brasil está sempre mudando, e sendo reescrita, o desejo para ambos é que seja melhor!