Na literatura de autoajuda, é comum encontrarmos a ideia de que todos podem conquistar o seu sonho desde que sejam disciplinados (ou engajados, se quisermos usar um termo mais cool) na busca do seu propósito, outra palavrinha da moda. Logo após a leitura, nós ficamos reenergizados e até modificamos alguns comportamentos, mas uma semana se passa e lá estamos nós, repetindo os velhos padrões. Percebo que uma das causas deste conflito é a busca de sonhos ou padrões de atuação que não dialoguem com a nossa essência, principalmente em uma sociedade onde são impostos modelos de felicidade.
Hoje em dia, há muita cobrança para que as pessoas sejam perfeitas: sucesso profissional, um trabalho com propósito, aquele romance de cinema devidamente registrado nas mídias sociais, beleza de capa de revista, e a lista nunca termina… Em uma sociedade em que tudo é espetacularizado e editável, a diferença entre realidade e fantasia depende da consciência do emissor e receptor da mensagem.
Mas isso não é sustentável: nunca tivemos tantos casos de depressão e consumo de entorpecentes. As mídias aproximaram quem está longe, mas afastaram quem está ao nosso lado. Mostrar vulnerabilidade nos dias de hoje parece ser uma grande fraqueza, mas pode ser a maior força que uma pessoa pode ter. Hoje, há essa grande procura pelo sucesso e fórmulas de motivação porque as pessoas inverteram a lógica. Em vez de buscarem se conhecer, investirem nas suas vocações, prosperarem nelas e obterem o sucesso como conquista e consequência, muitas pessoas adaptaram suas existências a partir do que o outro, sejam eles familiares, amigos ou as mídias, dizem que é sucesso, felicidade e realização.
A grande motivação, ou seja, motivo para agir, não pode ser externa. Ela deve refletir o nosso “grund”, um motivo que nos humaniza desde o início de nossa existência. Em vez de buscarmos o livro, o guru ou a dica infalível, acredito que cada pessoa pode buscar se conhecer, experimentar diferentes abordagens, criar a sua própria jornada, e se sentir uma pessoa mais plena, nutrindo amor por si e pelo outro. A maior felicidade que existe é se sentir bem, e, para isso, felizmente, não há regra moral do que é certo ou errado.
Podemos perceber que, em todo conflito e adversidade, reside uma grande dica para o nosso objetivo de vida. Algumas pesquisas mostram que tomar riscos e gerenciar conflitos fazem as pessoas se sentirem mais felizes do que nos momentos em que julgavam ter a “vida perfeita”. A adversidade é um espelho que nos mostra quem realmente somos, quais são as nossas forças, confirmando o famoso ditado popular “o que não mata nos deixa mais fortes”. Sendo assim, se você está enfrentando um desafio, pergunte-se o que ele está te ensinando, o que você está descobrindo dentro de si ao lidar com o conflito, e que faz você se admirar a cada dia mais. É muito comum as pessoas sentirem até uma gratidão pela adversidade, e passarem a ajudar outras pessoas em problemas semelhantes. Espiritualidade é isso.
No momento em que aceitamos que são as nossas imperfeições que nos tornam perfeitos, acaba que o próprio conceito de perfeição cai por terra. Eu gosto de imaginar que tudo está certo, na medida exata do que damos conta. Observemos a natureza, a harmonia que existe no universo. Usando nossa lógica temporal, podemos até entender que vivemos um período caótico, de conflitos crescentes, mas acredito em ciclos, e aceitar que tudo está acontecendo na medida que damos conta nos faz levantar a cabeça e agradecer muito pela graça de estarmos vivos. Se você parar para sentir, pode até descobrir uma ordem muito bela no caos, e o caos na ordem. É o ciclo da vida.
Para quem está em busca de sua essência, eu recomendo sentir mais do que pensar, e assumir o que você realmente valoriza, seja família, trabalho, relacionamentos, conhecimento… Não há uma cartilha, o importante é você reconhecer o que vale pra você e alinhar suas decisões no dia a dia. Estamos viciados em fórmulas, mas temos a engenharia mais linda que existe dentro de nós, que são as nossas emoções. Quando tomarmos mais consciência de que somos seres talentosos, que pensam, mas, acima de tudo, sentem, muitas respostas aparecem. Daí ficamos mais conscientes das nossas vocações, empreendemos com mais efetividade, e assim enriquecemos, por dentro e por fora. Dinheiro é energia e cria ressonância com quem está vibrando positivamente. De nada adianta enriquecer por fora mas estar pobre por dentro. Há um outro ditado que diz que “há pessoas tão pobres, tão pobres, que apenas possuem muito dinheiro”. Podemos ser muito mais ricos e tudo começa por dentro, pelo sentir quem realmente somos. E, se precisarem de apoio, consultem, sim, os autores, professores, amigos e familiares, mas lembrem: a verdadeira ajuda começa quando você decide ser o seu próprio guru.