Em muitos anos sendo gorda, lembro de ter ouvido muito mais gente falando sobre o que eu não poderia usar do que o contrário. A mulher gorda é excluída e invisibilizada de várias formas diferentes: não pode usar as tendências (pelo contrário, tem que se contentar com aquelas roupas largas e retas lá no fundo das lojas); não pode ser bonita (sexy, então, nem se fala); não pode usar blusa sem manga nem short curto (isso só quem pode são as donas de braços e pernas secos e durinhos).
Resumindo: para a sociedade, o ideal era que a mulher gorda nem existisse, mas, já que existe, melhor é que se esconda, seja discreta, coberta e o mais invisível possível. Vestido justo? Nem pensar. Saia plissada? Não pode. Cropped? Jamais. Estar, o tempo todo, cercada por limitações tem um efeito profundamente nocivo na autoestima das mulheres que não estão dentro do padrão magro de beleza. Foi exatamente por isso que passei anos da minha vida sendo incapaz de usar blusas sem manga, mesmo em um calor carioca de 40 graus, por achar que os meus braços não eram magros o suficiente para serem mostrados.
Mas que horror pensar que a minha necessidade de agradar os outros era tão grande a ponto de eu preferir passar mal de calor do que mostrar para o mundo os meus braços gordos. Como se só os magros tivessem o direito de vestir algo confortável, fresquinho e – por que não? – também estiloso. Pois, felizmente, alguns anos de contato com o feminismo e o movimento body positive me provaram que: não. Nós temos esse direito também!
Desde que comecei o meu processo de libertação dos sufocantes padrões de beleza, a moda tem sido uma ótima ferramenta de empoderamento. Através das roupas, consigo não só me expressar, mas também afirmar a minha existência (e resistência) enquanto uma mulher fora do padrão que não se contenta com a invisibilidade e a exclusão diárias. Pelo contrário: quebrar essas limitações é uma forma de dizer que nós existimos e vamos continuar existindo. Na contramão de todas as frases que começam com “gorda não pode”, que tal começar a transgredir as regras e comprovar que, não, uma mulher não precisa ser magra para ser feliz, confiante e confortável com ela mesma?
Look: Blusa jeans Leader, saia plissada Riachuelo, meia-calça preta, bota e colar de acervo pessoal, choker Ly Wolf Biju.