A gravidez é um momento único e de alegria na vida de um casal, mas pode ser também uma fase delicada do ponto de vista emocional, de constante angústia, ansiedade e insegurança. Neste caso, o apoio da família e amigos se torna essencial, mas este tipo de convívio e comprometimento reduziu bastante nos últimos anos, devido, principalmente, às mudanças da sociedade.
Antigamente, o suporte na hora do parto era feito por mulheres mais experientes, como mães, irmãs mais velhas ou vizinhas – pessoas que já vivenciaram esta situação. Atualmente, o parto está sob responsabilidade da esfera médica e cada integrante da equipe especializada possui uma função, sem total dedicação à futura mamãe. Mas, afinal, neste cenário, quem se responsabiliza por cuidar do conforto e do emocional da gestante? Essa lacuna pode e deve ser preenchida pela doula.
Seu objetivo é dar total apoio à mãe e ao bebê, mas acaba sendo também um suporte ao acompanhante escolhido livremente, pela mulher grávida. Neste período, atua como uma interface entre a equipe de atendimento e o casal, esclarecendo os termos técnicos de difícil entendimento e orientando sobre o que deve esperar antes, durante e após o parto.
A assistência pode ser feita desde a organização do quarto infantil, da mala da maternidade, do plano de parto, até a amamentação. Na hora do parto, por exemplo, ajuda na escolha de posições que possam reduzir as dores e aplica técnicas que aumentam a dilatação. Para evitar anestesias, as opções são exercícios, massagens relaxantes e banhos.
Apesar de lidar diretamente com a grávida, a doula não realiza qualquer procedimento médico ou exames. Não substitui qualquer equipe obstétrica.
Cerca de três milhões de partos anuais são realizados no Brasil e mais de 50% com intervenção cirúrgica. Na rede privada, o número de cesárias chega a 84%, enquanto que, na rede pública, o percentual é menor, 40%. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que as taxas sejam de 10% a 15%. Em paralelo, pesquisas recentes apontam que a atuação da doula no parto pode reduzir em 50% as taxas de cesárea; em 20%, a duração do trabalho de parto; em 60%, os pedidos de anestesia; em 40%, o uso da ocitocina sintética (hormônio artificial que promove contrações); e em 40%, o uso de instrumentos como o fórceps e o vácuo extrator.
A prática vai ao encontro das diretrizes do programa Humaniza SUS – Política Nacional de Humanização do Governo Federal. Recentemente, o Ministério da Saúde lançou uma lista de recomendações para humanizar o parto normal e reduzir as intervenções. Entre elas: permitir à mulher a posição que ela preferir durante o parto; presença de doulas e de acompanhante; e métodos de alívio para a dor, como massagens, banhos quentes e imersão na água.
As recomendações do Ministério apenas reforçam a importância do trabalho das doulas no atual cenário do país e da liberdade de escolha das grávidas. Um parto saudável depende do bem estar das pessoas envolvidas.