Entre as tantas notícias de assédios e estupros divulgadas essa semana, parece até leviano falar de autoestima. Se sentir bem ou não dentro da própria pele subitamente parece secundário perto das muitas mulheres que são assassinadas, abusadas e violentadas todos os dias. Ainda assim, ambas as questões me parecem ser galhos da mesma árvore: em uma sociedade machista como a nossa, são muitas as formas possíveis de exercer o controle sobre o corpo das mulheres.
Ao mesmo tempo em que os casos de feminicídio seguem se multiplicando, causados pelo sentimento de posse que faz com que um homem se sinta no direito de tirar a vida de uma mulher simplesmente porque ela estava com uma saia curta demais para os parâmetros dele, por exemplo, também ligamos a televisão e encontramos, todos os dias, uma infinidade de propagandas dizendo que precisamos mudar isso ou aquilo para sermos consideradas desejáveis. Mas desejáveis segundo o padrão de quem?
Diante dos últimos casos que vieram à tona essa semana (entre eles, o caso da escritora Clara Averbuck, estuprada por um motorista do Uber, e o caso do homem que ejaculou sobre uma passageira no transporte público e que segue solto, pois, segundo o juiz, não houve constrangimento nem violência alguma), fica o questionamento: em pleno 2017, até que ponto os nossos corpos realmente nos pertencem? Enquanto, historicamente, nós, mulheres, éramos consideradas propriedades dos homens, passadas das mãos do pai para as mãos do marido em um ritual simbólico de casamento, hoje ainda precisamos lutar contra uma justiça que considera aceitável que um homem ejacule sobre uma mulher desconhecida em pleno transporte público sem que isso seja considerado uma violência.
O que casos como esse colocam em evidência é que o corpo feminino ainda é visto como um terreno sobre o qual os homens se sentem no direito de fazer o que bem entendem. O corpo feminino ainda é diariamente controlado, julgado, invadido, violado. Tanto pelas violências físicas quanto pelo discurso que reafirma constantemente que uma mulher só pode ter valor se estiver em conformidade com o padrão de beleza: se estiver perfeitamente magra, maquiada, depilada, tiver unhas e cabelos longos – e, de preferência, sem envelhecer, porque o culto à juventude não permite.
Tempos atrás, vi na internet uma imagem com a frase: “Em um mundo que lucra com a sua insegurança, gostar de si mesmo é um ato revolucionário”. Talvez se possa dizer até mais: em um mundo machista que se beneficia de mulheres que não percebem o próprio valor, construir uma relação saudável consigo mesma pode ser um ato revolucionário. Em um mundo machista que trata o corpo feminino como mais um produto, tomar o controle do nosso próprio corpo – e ser capaz de ir contra aquilo nos foi imposto como o ideal de beleza – pode ser também um ato revolucionário. Pode ser uma forma de resistir e gritar ao mundo que, sim, o nosso corpo nos pertence. Ou, ao menos, deveria pertencer.
Look:
Blusa: Na Beca Tamanhos reais (instagram.com/nabecatamanhosreais)
Blazer: Mais Loany (instagram.com/maisloany_oficial)
Calça: Renner
Tênis: All star