É impressionante o número de terapias indicadas ao tratamento para crianças com autismo. São terapeutas que criam tratamentos milagrosos e se esquecem de promover resultados. Sempre ouvimos casos de pacientes que, após vários anos de terapia, não alcançaram nenhum resultado. Terminam os tratamentos do jeito que entraram, num período muitas vezes de cinco a seis anos de atendimento, ou tratamentos que permeiam a vida toda. Isso vale para todas as terapias que acompanham os autistas e que muitas vezes compõem a sua rotina semanal.
A literatura científica indica tratamento intensivo, cinco dias por semana, por no mínimo cinco horas por dia, de 20 a 40 horas por semana, então os pais se perguntam: será terapia todos os dias, com muitas horas por dia? Claro que não, isso não significa overdose de terapias, mas o profissional certo para a necessidade do sujeito, às vezes dois profissionais, já compreende todo o processo. O ideal seria o terapeuta orientar os pais e treinar junto nas terapias para promover esses estímulos durante vários momentos e em varias ocasiões diferentes e que também a escola seja orientada, e isso já garante quatro horas de terapias por dia, cinco dias por semana num total de vinte horas de estímulos intensivos na vida desse sujeito.
Os artigos mostram que, cada vez mais, pais ativos e orientados, que participam da terapia, têm um papel fundamental no processo. O que chamamos de generalização de aprendizagem é ele levar o que aprendeu no consultório para a vida real da criança, para que os autistas não tenham apenas desempenho no consultório ou só funcionem com a terapeuta, os pais não precisam ficar toda a terapia, mas participar é essencial, dando continuidade em casa e diminuindo a sobrecarga de terapias.
Esse excesso de terapia se torna um martírio para a criança, que deverá dar conta de toda essa gente que tenta tornar um autista uma pessoa dita no padrão “normal”, o que é um grande erro, criando uma rotina viciosa e desgastando esse sujeito e seus pais. O recomendando é colocar nas terapias em que o paciente tenha um bom desenvolvimento e que este desenvolvimento seja coerente com sua necessidade funcional.
Reduzir drasticamente o excesso de terapia apresentará resultados favoráveis, cessar terapias que não apresentam resultados e que podem, inclusive, confundir a pouca atenção é um bom caminho. Algumas terapias apresentam uma proposta de trabalho, exagerando na superficialidade de suas descrições. Às vezes precisamos apenas dos profissionais certos.
Não adianta tentar manter padrões altos de cobrança ou de resultados isoladamente, é necessário manter a atenção nas capacidades de aprendizagem e nas limitações. Se, para os pais, entender e aceitar que o filho é autista é o primeiro grande passo para a mudança na relação com o mesmo, para o terapeuta entender e aceitar isso é o primeiro grande passo também.
O processo precisa ser interdisciplinar, em todas as áreas de profissionais citadas, cada um tem sua própria teoria e metodologia e algumas destas teorias são incongruentes com outras. É extremamente relevante uma conexão de rede, mantendo foco na teoria, que atenda o paciente. Uma terapia sem eixo de trabalho se resumirá a duas coisas: uma coleção de técnicas e um paciente sem mudanças reais.
Muitas das vezes, a ausência completa ou parcial dos pais no processo terapêutico dificulta o trabalho, tornando o tratamento longo e sem resultados. Pais são co-terapeutas sempre. Devem levar tarefas de casa e devem exercitar, mesmo que minimamente, o que é trabalhado clinicamente.
Quando os profissionais, a família e a escola não falam e objetivam o mesmo arcabouço de desenvolvimento, o trabalho de cada terapeuta fica atomizado e a probabilidade de insucesso é grande.
O que pretendo discutir aqui é que precisamos permitir à criança autista o seu direito de ser criança, que possa brincar e explorar o mundo sem cobranças nos moldes ditos normais. Autismo não é doença, é preciso parar de adoecer nossas crianças com tanto tratamento.