A autora Simone de Beauvoir afirma em seu livro “A velhice” que nós “recusamo-nos a nos reconhecer no velho que seremos”. Com a sua revisão histórica sobre o velho na sociedade, podemos entender o quanto nos causa incômodo nos imaginar velhos. Inevitavelmente, os efeitos da senescência vêm para todos, mas o prazer e a paz interna em viver a vida ao longo do tempo, ter paz pela história que construímos e ter a plenitude em ser quem você se tornou não é para todos.
A busca pela beleza física e pela aparência cada vez mais impecável nos distancia de quem somos. O recente aplicativo compartilhado e utilizado por todos como uma brincadeira, o FaceApp, possui uma tecnologia capaz de gerar a possível aparência no futuro. Em segundos, temos uma ideia de como seremos idosos. As reações diante disso são diversas. E já chegou o assunto no meu consultório.
Envelhecer bem depende de um somatório de questões: estilo de vida, fatores econômicos, culturais, gênero, mas sobretudo investimento no emocional. Vivemos emoções positivas e negativas, precisamos saber nos relacionar emocionalmente com as pessoas, entender como elas nos afetam e como lidamos com isso. Além disso, o autoconhecimento (que inclui a autoconsciência a respeito das emoções, o entendimento da nossa história, e o motivo de certas escolhas) faz parte deste “pacote do envelhecimento”.
O desgaste emocional acelera o nosso processo de envelhecimento
No decorrer da vida, podemos deixar “na gaveta” sonhos e metas. Muitos têm uma vida “plastificada”. No fundo, vivem no piloto automático e quanto menos sentido a vida tem para estas pessoas, mais aumenta a busca pela aparência. É um ciclo vicioso acrescido de outras fugas, desajustes e doenças físicas. O estresse em se manter eternamente jovem tem provocado alguns distúrbios e desequilíbrios emocionais.
Precisamos saber liberar os sentimentos negativos que circulam dentro de nós e nos impedem a ter um fluxo de prazer, prosperidade e paz. Este aplicativo pode oferecer uma ideia aproximada da velhice, mas com certeza ele não leva em conta o gerenciamento emocional, as influências diversas do envelhecimento e muito menos a singularidade do ser humano no seu processo de autoconhecimento.