Nenhuma uva é tão poética quanto a Pinot Noir. Ouso dizer que seu gênero é feminino! A mais caprichosa, delicada e temperamental das uvas. É preciso muito cuidado ao lidar com ela. De origem francesa e uma das uvas mais antigas do mundo, a Pinot Noir é a rainha dos vinhos tintos da Bourgogne e também usada na região de Champagne (como vimos no artigo anterior).Mais que qualquer outra região, a Bourgogne colocou em seus vinhos toda sabedoria e experiência de sua história. Complexas leis de sucessão do código napoleônico obrigam que as terras sejam divididas igualmente entre os filhos do falecido, o que transformou a região em um verdadeiro mosaico, motivo pelo qual as vinícolas costumam ser pequenas. Simples, Villages, premiers cru e grands crus ficam lado a lado. Não é fácil entender porque um vinhedo é grand cru e seu vizinho um village (mais simples). Contudo, é aqui que conseguimos definir melhor a palavra terroir: uma combinação de tipo de solo, micro clima, exposição entre outros fatores afetam diretamente o desempenho de cada terreno.
Os produtores da Bourgogne costumam dizer que seus vinhos vêm mais do solo que da uva Pinot Noir. O solo da região caracteriza-se pela extrema diversidade, até mesmo dentro de uma mesma microrregião, a diferença do terreno é por vezes dramática. Um bom exemplo é o vinhedo de Domaine Romanée-Conti, que produz um dos melhores vinhos do mundo e seus vizinhos não alcançam a mesma qualidade. No Brasil, o Romanée-Conti ganhou fama, quando em 2002, o então presidente Lula comemorou sua vitória degustando-o (coisa de uns R$ 5.000,00!), porém em algumas safras seus preços ultrapassam esse valor. Aliás, nossos políticos costumam apreciar muito os vinhos do Domaine. O produtor Albert de Villaine, em visita ao Brasil, esteve na adega de Paulo Maluf. Pasmem-se! Ele ficou chocado ao ver que Maluf possuía algumas safras tão antigas e raras que nem eles tinham.
Por tudo isso, a Pinot Noir na Bourgogne é única e seus vinhos são sinônimo de elegância e sutileza. Para conhecer melhor a região e seus produtores, vale ver o filme Mondovino de Jonathan Nossitier. Quando jovens, os vinhos da Pinot Noir têm sabores de frutas vermelhas, morango, framboesa, cereja; florais como violeta e jasmim. O envelhecimento em carvalho confere à uva café, baunilha, cacau entre outros. Com a idade, desenvolvem aromas de caça, defumado e trufas. É um dos vinhos que melhor envelhece. Não costumamos encontrar Pinots da Bourgogne baratos. Porém, algumas regiões de clima frio têm conseguido com sucesso elaborar vinhos de boa qualidade e mais acessíveis com a Pinot Noir.
A Nova Zelândia e Estados Unidos produzem ótimos vinhos. No Chile, as regiões de Casablanca e San Antonio chamam atenção. Os Argentinos, em especial os da região do Rio Negro, na Patagônia Argentina e o Brasil, tem alguns bem frutados e corretos.
Na hora da harmonização, os vinhos da Pinot Noir são um grande aliado, por serem muito versáteis. Refeições com especiarias, ingredientes defumados, grelhados ou tostados. Pratos salgado/doce da culinária chinesa. Peixes, pato e frango. Com os queijos brie e camembert. Harmonizam perfeitamente!
“Por mais raro que seja, ou mais antigo. Só um vinho é deveras excelente: aquele que tu bebes calmamente com teu mais velho e silencioso amigo” Mario Quintana (30/07/1906 – 05/05/1994)