Eu encontro paz na melancolia.
Todos os dias, quando abro os olhos, a primeira coisa que sinto é dor. Um aperto no peito que, por mais que eu ignore, está lá. Forte, gritando para que eu faça alguma coisa e eu não sei o que fazer. Porque nem ao menos sei por que dói tanto.
Foi quando o conheci. No início, achei que eu era apenas mais uma garota a quem ele tratava bem e educadamente, mais tarde percebi que eu era diferente aos seus olhos. Não demorou e estávamos namorando.
Mas, por mais que eu me esforçasse, por mais que lá no fundo eu quisesse sentir aquele sentimento que todos sentem, eu não sentia. Porque eu estava vazia. Eu sempre estive vazia, durante toda a minha vida sempre faltou algo em mim.
Algo que eu nunca consegui encontrar, nunca consegui nem ao menos entender o que era.
E então, quando não consegui mais esconder a falta de sentimento e ele se foi magoado por ter se envolvido com uma mentira, com uma boneca de porcelana rachada, eu percebi que o que faltava em mim era eu mesma. Porque não conseguimos amar alguém sem nos amarmos primeiro.
Isso era o que faltava em mim. Eu não me amava. Eu me odiava.
Busquei ajuda, procurei colocar de alguma forma aquilo que eu não conseguia definir.
Foi através de cartas, escritas para mim mesma, que eu consegui, enfim, perceber o que era aquilo dentro de mim, aquele vazio, aquela dor.
Nada mais era do que solidão. Porque, embora eu tivesse família e amigos, sempre tinha aquele pontinho preto lá no fundo. Porque, por mais que eu estivesse rodeada da minha família nas festas, ninguém prestava atenção por muito tempo no que eu tinha a dizer, os amigos vinham apenas quando tudo estava bem, mas, quando um dia ruim chegava, eles corriam.
Aos poucos, fui descobrindo quem eu era, cresci e amadureci como pessoa. E, quando chegou a vez de amar alguém, eu consegui. Fui arrebatada exatamente como as protagonistas em meus livros de história eram, consegui sentir as famosas borboletas, o nervoso, o frio na barriga. Eu consegui construir uma família.
Porque eu aprendi a me amar para poder amar.