Ao descrever o circuito da leitura no cérebro, precisamos de neurônios especializados no reconhecimento de objetos e faces que serão reprogramados para processar letras e símbolos. As modificações neurais associadas à aquisição da competência leitora dependerá de uma interação dinâmica entre a plasticidade sináptica.
O reconhecimento dos traços das letras e suas sutilezas, como por exemplo, a diferença entre “b” e o “d”.
Nosso cérebro utiliza diferentes meios para reconhecimento visual do texto e de faces. A percepção do texto depende de uma estratégia analítica, ou seja, voltada para os detalhes, enquanto a percepção de faces e da forma dos objetos é mais holística, voltada para o todo. Essa diferença se reflete na lateralização preferencial do processo visual do
texto e de faces e objetos em redes funcionais nos hemisférios esquerdo e direito do cérebro, respectivamente.
Há outros estudos que apontam a localização das áreas da linguagem das redes de leitura nos lobos temporal e frontal do hemisfério esquerdo.
O processamento neuronal associado ao reconhecimento das palavras é complexo. O desafio da alfabetização, entretanto, vai além do reconhecimento das palavras: é necessário dinamizar esse processo para permitir a fluência da leitura com nível de precisão e rapidez, em que a compreensão do texto aconteça sem esforço, e onde a atenção é voltada para a compreensão do texto.
Eis o momento mais criativo da leitura, em que entram em jogo outros mecanismos cognitivos como o planejamento, envolvendo funções executivas e atencionais.
Além das áreas responsáveis pelo reconhecimento das letras, grafemas e fonemas, a fluência leitora depende também das funções executivas (memória operacional, controle inibitório e flexibilidade cognitiva), controladas por áreas do córtex pré-frontal. A memória operacional, por exemplo, que é utilizada para reter informações importantes para uma tarefa por um período de tempo curto, possui uma capacidade máxima. É importante, portanto, que as metodologias da alfabetização trabalhem de forma sistemática e intensiva para reconhecimento das letras, dos grafemas associados aos fonemas e das palavras escrita.
Quanto mais se trabalha essa memória, mais a leitura regular promove melhoria. A falta de memória operacional acaba diminuindo o interesse pela leitura, que, por sua vez, impede melhoras significativas nesse processo.
Ações dinâmicas em sala de aula otimizam e estimulam áreas neurais importantes nesse momento. Jogos e brincadeiras, contar estórias, teatro de fantoche, etc valorizam o entendimento e a incorporação do mundo físico e social.
O conhecimento adquirido de maneira ativa é mais completo e também estimula redes neurais beneficiando seu desenvolvimento durante esse período.
A leitura é de excelência no desenvolvimento cognitivo, para modificar o panorama educacional brasileiro, mas, sobretudo, para tornar nosso país mais democrático, justo e próspero.