Apesar do termo “seleção por competências” não ser uma novidade, ainda hoje é seguro afirmar que grande parte das contratações acontece por questões técnicas, e as demissões, por fatores comportamentais. E aí, com este cenário, algumas perguntas vêm à tona: por que isso acontece? Por que fazer um processo de seleção por competências? Será que é tão difícil ministrar um processo voltado às competências?
Primeiramente, temos que considerar que nossa educação ainda está voltada às questões técnicas. Na escola, estudamos matemática, português, geografia… Temos os cursos técnicos, direcionados a alguma área específica. Ou seja, a preocupação sempre focada em questões técnicas. Não vemos, por exemplo, um aluno aprendendo a lidar com determinada situação ou emoção. Nem as emoções e ansiedade envolvidas com as provas são trabalhadas. Não à toa, vemos com certa frequência o famoso branco. Infelizmente, a questão técnica, em uma sociedade de especialistas, ainda é mais valorizada.
Agora que temos o contexto definido, segue uma pergunta importantíssima: o que são competências? Pelo senso comum, relacionamos a alguém competente o fato dele fazer algo muito bem. Muitas vezes, apesar de considerar alguém competente, não se sabe exatamente o porquê deste sucesso. Talvez, associem a questões técnicas e só. Por exemplo: a senhora que trabalhou lá em casa e cuidou de mim era muito competente. Ela cozinhava muito bem. Em relação ao conceito de competências utilizado nos modelos modernos de Gestão de Pessoas, são notáveis questões comportamentais, que estão ligadas às emoções, além do conhecimento técnico –esta senhora é atenta, pois costuma preparar as comidas ao ponto; a dispensa tende a ser organizada e nunca falta comida. Além do mais, ela é muito simpática. Em resumo, quesitos como atenção, organização, gestão de recursos e bom relacionamento interpessoal foram competências avaliadas nesta situação hipotética. Em outras palavras, as competências são características que possibilitam as pessoas executarem tarefas de maneira satisfatória.
Assim, o mercado já percebeu este fenômeno e por esse motivo os RHs vêm ganhando cada vez mais força. Além do mais, como a ênfase nos resultados cresce, fatores psicológicos que interferem no processo de realização das tarefas estão se tornando protagonistas. Por isso, a seleção por competências está ganhando espaço. Ao contrário dos processos tradicionais, que verificam hipóteses, esse método de avaliação considera os resultados que a pessoa já alcançou, que são correlacionados às competências.
Em uma seleção embasada no método tradicional, as perguntas são mais diretas: você é um bom líder? Normalmente, a resposta é pautada na hipótese e pode gerar respostas inúteis: sim, eu sou um bom líder. Já em uma seleção por competência, para se descobrir se o candidato possui a característica da liderança bem desenvolvida, a pergunta seria feita de outra maneira: diga-me uma situação em que você liderou pessoas e foi bem sucedido? Fatalmente, o candidato será obrigado a citar uma passagem de sua vida, pautando assim sua resposta em algo que já aconteceu. Sem contar que, com as competências sendo mais valorizadas, a avaliação passa a focar também na pessoa e valoriza o resultado. Ao contrário da maneira mais praticada, que foca mecanicamente na função.
Outro ponto importante da seleção por competências é que aumentamos as chances de descobrir as mentiras. Como em toda história, uma resposta precisa ser detalhada e ter início, meio e fim. Quando o candidato conta a verdade, seguir este “roteiro” não é difícil, mas para quem está inventando…
Em suma, a seleção por competências está crescendo cada vez mais, porque as empresas estão começando a entender que o que faz alguém desempenhar bem sua função não é apenas o conhecimento técnico, mas sua capacidade emocional e comportamental de concatenar todos estes fatores.