O processo de tomada de decisões em uma organização é alvo de estudos e de sistematizações já há algum tempo, em função de sua elevada relevância para o sucesso ou insucesso de seus negócios.
O primeiro elemento que precisa ser compreendido é que a decisão é um processo que começa na existência de um problema a ser resolvido, sobre o qual devem ser realizadas análises para contextualizá-lo no ambiente empresarial. A partir da sua análise é que se concebem as alternativas de solução dentro do planejamento estratégico, tático e operacional da empresa. A decisão é, assim, uma consequência de um processo que envolve uma combinação entre os objetivos esperados, as alternativas existentes e suas relações entre custos e benefícios, a cultura organizacional e os estilos dos tomadores de decisão.
Este processo pode ser mais ou menos centralizado, dependendo da cultura de cada organização. A centralização propicia maior rapidez para o processo, mas isto não significa que as decisões sejam as melhores.
Processos decisórios descentralizados podem se tornar mais morosos, mas tornam-se mais equilibrados e ponderados por considerarem a visão das diversas lideranças da organização.
Muitos empresários e empreendedores se questionam se existe um caminho ou uma fórmula que leve a uma tomada de decisão mais certeira. E o segredo para um processo decisório eficaz é que não há segredo.
A primeira palavra-chave chama-se “planejamento”. Todo processo decisório envolve certezas e incertezas e em ambas existem os riscos inerentes aos diversos caminhos que se abrem para solucionar os problemas. Seja qual for a natureza do problema, o processo decisório não pode prescindir das diversas etapas de um planejamento. Isto significa envolver um estudo do cenário interno e externo da empresa, a definição dos objetivos e metas a serem alcançados, quais são as possíveis estratégias que podem viabilizar a solução e um conjunto de ações que implementam as decisões tomadas.
A segunda parte do segredo do sucesso no processo decisório é contar com a participação das diversas lideranças, delegando a elas a autoridade para julgar, criar e inovar. Empresas modernas e vencedoras apostam, atualmente, no desenvolvimento de lideranças transformacionais. Estas lideranças são agentes de mudanças que conduzem a organização para a criação de estratégias competitivas inovadoras. Elas são capazes não só de gerar diferenciais de mercado como inspirar seus liderados com seu poder carismático.
Outro grande dilema que aflige o empresário diz respeito à delegação de autoridade para a tomada de decisão nos diversos níveis hierárquicos da empresa. Muitos se questionam se é possível afirmar que algumas pessoas não possuem as qualidades para uma boa tomada de decisão.
É um mito acreditar que pessoas tenham uma habilidade inata de poder de tomada de decisões. Isto é uma competência que se adquire como qualquer outra. Para se tornar um bom “tomador de decisões”, é preciso reunir muitos conhecimentos e experiências, além de desenvolver algumas competências comportamentais como a capacidade de assumir riscos e a autoconfiança.
A teoria da liderança situacional de Hersey & Blanchard nos mostra que devemos dispensar tratamentos diferenciados conforme o grau de maturidade e o comprometimento de cada profissional com a empresa. No nível mais alto de maturidade e de comprometimento, um líder deve delegar decisões. Naturalmente, deve-se estabelecer critérios e limites para o que cada um pode decidir, mas é certo que organizações de maior sucesso possuem um processo mais descentralizado de tomada de decisão.
Por outro lado, quem toma uma decisão assume riscos e é por isto que se torna essencial que empresas invistam na capacitação de seus colaboradores e criem um ambiente favorável à livre criatividade e inovação. O importante neste processo é entender quais são as maiores dificuldades para que o processo decisório seja o mais eficaz e fluído possível.
E, novamente, ressalta-se a ausência de um processo sistêmico de planejamento como causa principal das dificuldades e dos erros que se cometem no processo decisório no mercado brasileiro como um todo, especialmente nas empresas de micro e pequeno porte. “Experts” em gestão empresarial costumam dizer que no Brasil o que se faz é “planejação”, uma mistura de alguns elementos de planejamento misturados com muitas ações precipitadas, sem um fundamento sólido e metodológico do ato de planejar.
Além disto, há alguns agravantes para o problema. O primeiro decorre da elevada competitividade e globalização da economia que pressionam as empresas a mudarem abruptamente suas estratégias de mercado. Estas mudanças nem sempre são consistentes e alinhadas com o planejamento estratégico de médio e de longo prazo, o que torna míope a visão do mercado em que a empresa atua, pois considera apenas as condições do curto prazo. Em alguns casos, as empresas entram no que se denomina “guerra de preços” em busca de elevar as vendas e girar o estoque em tempo de não gerar perdas. Este fato imprime uma enorme complexidade ao processo de planejamento e, consequentemente, de tomada de decisões, as quais muitas vezes são impulsionadas pela necessidade de não perder vendas, não privilegiando uma estratégia sólida de relacionamento com os consumidores.
O segundo fator advém do desconhecimento do perfil do consumidor. Assim como os concorrentes não avisam quando vão lançar um novo produto ou uma nova estratégia relativa a um produto existente, os consumidores mudam de hábitos e gostos (em alguns segmentos, de uma forma bastante frequente e rápida, como no caso dos alimentos). Fatores econômicos e culturais mudam hábitos de uma forma radical e o consumidor se preocupa em avisar as empresas sobre estas mudanças. Em outras palavras, ou a empresa mantém um estreito relacionamento com seus clientes ou não vai perceber tais mudanças.
As tendências de mercado, impulsionadas por diversos fatores, tal como a tecnologia, por exemplo, também afetam o comportamento do mercado, influenciando diretamente as estratégias das empresas em relação ao seu mix de produtos e serviços. Tudo isto aponta para a necessidade de manter um olhar atento ao ambiente externo de uma forma perene, incluindo-o na rotina do processo de tomada de decisão empresarial.
E finalmente, mas não menos importante, há um fator no ambiente interno das empresas que é, atualmente, um fator crítico de sucesso. Este fator está relacionado a quão centralizado ou descentralizado é o processo de tomada de decisão empresarial. Em especial, em função de 99% de empresas brasileiras serem de micro e pequeno porte e possuírem uma natureza societária familiar conservadora, isto torna o processo decisório significativamente concentrado nas mãos dos donos. Apesar de ser uma característica mais observável nas empresas de menor porte, é possível encontrar um número expressivo de médias e pequenas empresas com elevada concentração do poder decisório nas mãos do alto escalão, mesmo quando a natureza societária não é familiar.
Nestes casos, as empresas se tornam altamente dependentes e reféns das decisões no âmbito institucional, que se torna sobrecarregado e, em algumas circunstâncias, até mesmo menos eficaz do que poderia ser, se alguns níveis de autoridade de decisão fossem descentralizados.
É preciso reduzir esta concentração de poderes, sob pena de limitar a capacidade da empresa de perceber todas as oportunidades e ameaças de mercado e agir em tempo para potencializar as primeiras e se proteger das últimas. Somente as organizações criativas e inovadoras sobreviverão aos mercados cada vez mais globalizados e competitivos e para isto não se pode prescindir de contar com lideranças capacitadas em todos os níveis e com liberdade de gerar propostas que agreguem valor aos resultados.