A interação com o ambiente confirmará ou induzirá a formação de conexões nervosas e, portanto, a aprendizagem de novos comportamentos. Fomos dotados de um “cérebro singular” com capacidades específicas que podem aumentar pela aprendizagem e pelo trabalho produtivo ou desperdiçar pela inatividade intelectual e por hábitos de vida que não são saudáveis.
Quanto mais estimulador é o contexto escolar, maior é o número de sinapses que serão estabelecidas e, portanto, a aprendizagem ocorrerá mais facilmente, sendo mais significativa para o aluno. Uma sala de aula que realiza estratégias que respeitem o funcionamento do cérebro tende a ser mais eficiente, apontam pesquisadores. Conhecer a aprendizagem numa perspectiva neurobiológica pode contribuir para professores e pais.
Cosenza e Guerra (2011), advertem que a estimulação ambiental é extremamente importante para o desenvolvimento do sistema nervoso. E lembram: “Camundongos criados em laboratórios em ambientes empobrecidos apresentam, mais tarde, cérebro com menos quantidade de conexões sinápticas.”
O professor deve contextualizar seu conteúdo com o dia a dia dos alunos, relatam estudiosos. Eles se sentirão recompensados e enriquecidos com o que estão aprendendo! Aprender é compensador! Uma aula padronizada talvez não capte o interesse deles.
A aprendizagem que desperta a atenção do aluno é estimulante!
As informações chegam para nós através dos órgãos responsáveis pelos sentidos (olfato, audição, paladar, tato e visão). E temos mais dois sentidos que não são tão conhecidos. Um deles permite reconhecer a localização espacial do corpo, sua orientação, posição e postura muscular (tempo e espaço), e o sistema vestibular é responsável pela sensação de movimento e posicionamento de cabeça (equilíbrio).
Quando o professor apresenta o tema de forma que possa atingir várias vias neurais, facilita o aluno na hora de memorizar, de reter e evocar o que aprendeu! Em uma aula de História, por exemplo, em que o professor fale de determinado período e associe o que foi estudado com fotografias, vídeos e registros do tema em forma de linha do tempo, criando, no fechamento do assunto, uma exposição dos trabalhos e apresentando para a escola.
John Locke sustentou “que todo conhecimento é obtido por meio da experiência sensória daquilo que se vê, ouve, sente, degusta e cheira.” Acredito na combinação entre teoria e prática na vivência do aluno no processo de aprendizagem, impulsionada por sinapses e novos caminhos neurais que vão se formando! Os professores devem abusar do sensorial na hora de ensinar.
Há cérebros que funcionam melhor com imagens do que palavras. É importante utilizar a visão, audição e o tato para “potencializar” a memória. Segundo alguns especialistas, o contato com um instrumento musical regularmente estimula a melhora de algumas habilidades cognitivas, como o controle motor, a audição e a memória.
“Creio na ideia de que o cérebro pode mudar sua estrutura e função por intermédio do pensamento e da atividade.” (DOIDGE, 2011, p.392)
Função executiva e córtex pré-frontal
O córtex pré-frontal, como o próprio nome sugere, é a parte da frente do cérebro, mais especificamente atrás dos nossos olhos e da testa; região essa que é a sede das funções executivas, funções às quais os estudiosos vêm dedicando grande parte de suas pesquisas.
Para o famoso neuropsicólogo russo Alexander Romanovich Luria e Elkhonon Goldberg, as funções executivas são funções que nos fazem civilizados, humanos. Portanto, a história humana desenrola-se na dependência das funções executivas.
O cotidiano escolar oferece diferentes desafios e situações imprevistas que exigem dos alunos habilidades de várias funções cerebrais. Que incluem raciocínio, lógica, estratégia e tomada de decisões, além de manter o foco, apesar das distrações do ambiente.
Os pesquisadores filiados à Sociedade de Neurociência e Comportamento lembram que, embora haja áreas mais utilizadas no cérebro, elas não são exclusivas, pois o processo do pensamento e do raciocínio envolve todas as áreas cerebrais.
Além disso, mesmo o lobo frontal, que é responsável por habilidades cognitivas complexas, e o sistema límbico, que é responsável pelas emoções, também participam nos processos de decisão.
Aprender melhor
Avalie o que precisa no momento! (o que é mais importante)
Faça uma coisa por vez! (ao executar diversas coisas ao mesmo tempo você pode se perder)
Estabeleça horários para cada disciplina e estude;
Durma bem; (o cérebro precisa de um tempo para processar as informações aprendidas)
Procure um lugar mais sossegado em sua casa. (evite os distratores)
Associe os conteúdos à sua realidade! (vai ajudá-lo a memorizar)
A especialista em psicopedagogia Carla Rodrigues lembra que “o conhecimento ganha várias dimensões de acordo com o meio em que vivemos, os estímulos recebidos, as oportunidades de explorar e conhecer o mundo que nos cerca.”
Habilidades e competências dos hemisférios cerebrais
“O cérebro é essência do que somos. Ele define tudo o que chamamos de humanidade” (Lev Vygostky, 1896-1934)
Para Springer (2008), o hemisfério esquerdo é especializado dns funções da linguagem, mas especializada nas habilidades analíticas superiores desse hemisfério, entre as quais a linguagem é apenas uma manifestação.
De acordo com Lent (2010), o hemisfério esquerdo controla a fala em mais de 95% dos seres humanos, mas isso não quer dizer que o direito não trabalhe. O hemisfério direito é o que interfere na fala e na comunicação interpessoal. O hemisfério esquerdo é responsável pela realização de cálculos matemáticos, pelo direcionamento da escrita e pela compreensão dela através da leitura. Já o hemisfério direito é melhor na percepção e no reconhecimento de faces.
A especialidade do hemisfério esquerdo é descobrir precisamente quem é o dono da face. Da mesma forma, o hemisfério direito é especialmente capaz de identificar categorias gerais de objetos, mas é o hemisfério esquerdo que reconhece as categorias específicas. O hemisfério direito é melhor no reconhecimento de relações espaciais, particularmente métricas, quantificáveis, enquanto o hemisfério esquerdo não deixa de participar dessa função, mas é melhor no reconhecimento de relações espaciais e categorias qualitativas. O hemisfério esquerdo tem movimentos precisos com as mãos e com as pernas direitas e o hemisfério direito com as mãos e pernas do lado esquerdo.
Apesar de o cérebro ser dividido em dois hemisférios, não existe relação de dominância entre eles, “pelo contrário, eles trabalham em conjunto, utilizando dois milhões de fibras nervosas que constituem as comissuras cerebrais e o corpo caloso para pô-los em constante informação para a atividade cognitiva.” (LENT, 2010, p.702) Isso resulta em aumento da quantidade de informação no cérebro e aumento do número de estratégia para lidar com uma maior conexão.
Para Relvas (2011), a ativação de uma área cortical, determinada por um estímulo, provoca alterações também em outras áreas, pois o cérebro não funciona com conexões isoladas. Os feixes comissurais conduzem à atividade de um hemisfério para outro, facilitando a comunicação entre eles.
Atividades que estimulam os hemisférios direito e esquerdo
Habilidades:
Naturalista, Linguística, Musical, Lógica, Matemática, Cinestésica, Espacial, Intrapessoal, Interpessoal. (psicólogo Howard Gardner,1980)
Os alunos gostam:
Observar, colecionar, perceber a natureza (naturalista), contar história, adivinhações, jogos de palavras, criar poemas (linguística), escutar e tocar instrumento, relacionar ritmo e rimas e criar tons (musical), trabalhar com números, analisar situações, saber como as coisas funcionam, precisão em resolver problemas (lógica, matemática), jogar esporte, usar o corpo, a arte a dança, representar mímica (cinestésica), rabiscar, pintar, desenhar, criar representações tridimensionais, trabalhar com quebra-cabeça, completar. (RELVAS, 2012, p.104)
Nesse sentido, observa-se que, devido às inúmeras pesquisas desenvolvidas sobre o cérebro no processo de aprendizagem, verifica-se que cada indivíduo possui diferentes potencialidades que devem ser estimuladas e respeitadas por professores e pais.
“Através do cérebro que sentimos tristeza ou alegria, e é também por meio de seu funcionamento, que somos capazes de aprender” (Hipócrates, 460 a.C a 377 a.C)
Referências:
COSENZA, M. Ramon e GUERRA, B. Leonnor. Neurociência e Educação – como o cérebro aprende. Porto Alegre: Ed.Artmed, 2011.
DOIDGE, N. O cérebro que se transforma. Rio de Janeiro: Ed.Record, 2011.
LENT, Roberto. Cem Bilhões de Neurônios? Conceitos Fundamentais da Neurociência. Rio de Janeiro: Ed. Artmed, 2010.
LURIA, Alexander. Romanovich. Fundamentos de Neuropsicologia. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1981.
RELVAS, Marta Pires. Neurociência e Educação – potencialidades dos gêneros humanos na sala de aula. Rio de Janeiro: Ed. Wak, 2010.
Revista. Segredo da Mente – Neurociência. Ano1, n°1 – 2016.
SPRINGER, Sally, P. DEUTSCH, Georg. Cérebro Esquerdo, Cérebro Direito. São Paulo: Ed.Santos, 2008.