Iván Izquierdo, um dos maiores pesquisadores do mundo na área de fisiologia da memória, mostra que “a memória é um evento divisível em três fases: aquisição, consolidação, evocação das informações. Uma outra forma de definir a fase de aquisição das memórias é chamá-las simplesmente de aprendizado, ou seja, só fica gravado aquilo que foi aprendido” (RIESGO, 2016, p.269).
Os neurocientistas distinguem a memória declarativa da memória não declarativa. Memória declarativa armazena as informações, o saber que algo se deu; e a memória não declarativa, o como isto se deu. A memória declarativa é também chamada de explícita que são os fatos, acontecimentos, nomes. Esse sistema de memória está associado a estruturas no lobo temporal medial hipocampo e amígdala.
Já a memória não declarativa, também chamada de implícita, inclui procedimentos motores, como andar de bicicleta, desenhar com precisão, quando dirigimos ou quando nos distraímos e vamos para o “piloto automático.” Essa memória depende dos gânglios basais, incluindo o corpo estriado, e não atinge o nível da consciência.
De acordo com vários estudiosos, a memória é a base do conhecimento. Deve ser estimulada e trabalhada. É através dela que acumulamos experiências e formamos nossa história.
“Eu sou que sou, cada um é que é, porque todos lembramos de coisas que nos são próprias e exclusivas e não pertencem a mais ninguém.” (IZQUIERDO, 2011, p.67)
A memória de trabalho ou memória de curto prazo é o alicerce da aprendizagem, pois determina a capacidade de processar informação, seguir instruções e acompanhar as atividades em sala de aula. Segundo pesquisadores, ela prediz o desempenho escolar.
A memória de trabalho se desenvolve ao longo da infância. Algumas crianças apresentam um déficit na memória de trabalho e precisam na escola e em casa serem estimulada com jogos e brincadeiras que os ajudem a memorização.
(…) segundo a neurobiologia, aprendizado e memória podem confundir do seguinte modo: quando chega ao Sistema Nervoso Central (SNC) uma informação conhecida, ela gera uma lembrança, que nada mais é do que uma memória. Quando chega ao Sistema Nervoso Central uma informação inteiramente nova, ela nada evoca, e sim produz uma mudança, isso é APRENDIZADO. (RIESGO, 2016, p.102)
Entenda o cérebro e ensine melhor
Ao conhecer o funcionamento da memória, você pode planejar ações para ajudar sua turma a armazenar e evocar conhecimento.
Veja algumas estratégias para melhorar a memória de trabalho
Em aula:
- Torne as aulas interativas com jogos, brincadeiras, conversação e materiais concretos;
- Chame atenção para datas limite de trabalhos e atividades, coloque avisos no mural;
- Procure falar pausadamente e passe as informações em pequenas unidades. Evite dar muitas informações de uma só vez, a criança perde o rumo;
- Estabelecer relações: do novo conteúdo com o antigo;
- Criar elaborações mentais: com recursos de som e imagem;
- Utilizar gráficos: diagramas, tabelas e organogramas;
- Reservar os últimos minutos finais de aula para avaliação do dia;
Em casa:
- Determine um lugar para que seu filho coloque coisas importantes como chave de casa, dinheiro, etc. Cada coisa precisa ter o seu lugar;
- Ter um espaço para estudo e um mural com avisos. Um ambiente com organização contribui e muito para a fixação da memória;
Habilidades de atenção
A atenção é uma função de fundamental importância, já que permite a interação do indivíduo com o seu ambiente. Os pesquisadores destacam quatro tipos de atenção: seletiva, sustentada, dividida e compartilhada.
A habilidade da atenção compartilhada é considerada uma das mais importantes para o desenvolvimento social e comunicativo das crianças, pois através da interação social o indivíduo começa a expressar seus interesses e compreender o interesse pelo outro.
Os estudiosos apontam importantes hipóteses a respeito da relação entre atenção compartilhada e as funções executivas, em que habilidade de mudança de foco de atenção estariam interligadas à atenção compartilhada e seriam no lobo frontal onde ficam as funções superiores, tais como: atenção, memória (verbal e visual), percepção, raciocínio, funções executivas, linguagem (verbal, escrita, cálculos…), funções motoras, habilidades visuais e espaciais, e também os aspectos comportamentais humanos.
Referências:
COSENZA, M. Ramon e GUERRA, B. Leonnor Neurociência e Educação. Como o cérebro aprende. Porto Alegre: Artmed. Ano: 2011.
ZQUIERDO, Iván. Memória. Porto Alegre: Artmed. Ano: 2011.
ROTTA, N.T; OHLWEILER,L; RIESGO,R.S. (org). Transtorno da Aprendizagem: Abordagem Neurobiológica e Multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2016.