Sabemos que, como espécie, só sobrevivemos a um ambiente hostil, repleto de predadores e ameaças da natureza, porque trabalhamos de forma coletiva. Há muitas análises atuais que sustentam a necessidade de nos adaptarmos às mudanças, mas a pergunta é: Ao que devemos nos adaptar? Ao consumismo? Ao individualismo?
Existe uma evolução evidente em nossa sociedade se considerarmos, por exemplo, que na Idade Média a concepção comum era que a criança era um adulto miniatura. Contamos com uma bagagem considerável de perspectivas, como a caracterização de fases do desenvolvimento e a nomeação e entendimento do que é infância e adolescência.
Hoje sabemos do papel central atribuído à família e à escola na educação da criança. Autores como Comenius, Rousseau, Pestalozzi e Froebel nos ajudaram nesse saber pedagógico, a formular a ideia que temos de educação e de infância.
Muito se percorreu na história da humanidade e nos estudos sobre educação. Estamos todos aprendendo e ensinando a viver. Os pais, quando observam o uniforme de seus filhos, recebem indícios de como foi o dia deles, uma preciosa oportunidade de iniciar uma conversa; na hora do banho ou quando lavar seus cabelos ou cortar suas unhas ensinando-lhes aspectos básicos de higiene – os pais nesse momento interagem com seus filhos, criando uma sinergia.
No desenvolvimento proximal que apontava o psicólogo Lev Vigotski, a criança pode navegar com a ajuda de “um ambiente de suporte, com o auxílio dos outros”,
seja em sua casa ou na escola, locais onde ela é estimulada e motivada a falar e desenvolver seus aspectos cognitivos.
Um passeio ao supermercado com a criança, por exemplo, onde seus pais ou cuidadores nomeiam as diferenças dos alimentos ao comprar separando o que são frutas, legumes e verduras, ou que vai ou não para a geladeira. Essa interação, esse pequeno e singelo momento nos primeiros anos é a base para a aprendizagem inicial das crianças sobre linguagem e outras ferramentas cognitivas.
O objetivo maior das escolas e dos pais precisa ter significado para vida desse indivíduo, que é ampliar as competências estruturando suas funções executivas. Desenvolvendo: o despertar de interesse por determinada tarefa; reduzir a quantidade de etapas necessárias para resolver problemas quando há dificuldade, simplificando-o de modo que possa administrar os elementos do processo e identificar quando conseguiu as exigências da tarefa; manter a criança no objetivo que deve alcançar, motivando-a e orientando para a atividade proposta; assinalar aspectos críticos do que ela produziu e a solução ideal; controlar a frustração e o risco da resolução do problema e, finalmente, demonstrar uma versão idealizada do ato a ser realizado. Essas atividades se aplicam a tarefas simples e complexas, como amarrar um tênis, abotoar a blusa, colocar a calça ou a meia, enxugar-se ou guardar as roupas.
Onde antes havia o espectador, deixe agora haver um participante. É isso. Criar situações cotidianas e tarefas da rotina que ensinem a criança a ser participante, a errar, a tentar novamente e a fazer tudo isso, na presença de pais afetivos e pacientes é essencial para um crescimento saudável com o objetivo de desenvolver a autonomia e autoestima. Assim, a criança se sente importante naquele ambiente.
As experiências cotidianas das crianças reforçam a narrativa das histórias, pois elas gostam de falar e aprender sobre roteiros e esquemas familiares, como o roteiro de “ir para cama” ou “ir ao parque”. Crianças se interessam em escutar e recontar experiências pessoais. Dessa perspectiva, nada mais enriquecedor do que a diversidade de experiências oferecidas pelas dinâmicas de várias famílias, quando compartilhadas na sala de aula ou no almoço de domingo na casa dos avós. O fato é que experiências familiares simples são fundamentais para o desenvolvimento do pensamento infantil, da linguagem, do raciocínio causal e dos conceitos básicos matemáticos elementares.
O entendimento inicial das crianças a respeito do mundo físico e perceptivo pode ajudar no início do processo de aprendizagem até torná-lo possível.
A aprendizagem é regulada e moldada tanto pela biologia como pelo ambiente. A participação dos pais na rotina dos filhos é, portanto, peça fundamental para sua formação. A família e escola têm papéis diferentes e essenciais na educação e no desenvolvimento de um indivíduo, preparando-o para o coletivo e o futuro. Não é
possível pensar em escola e a sociedade de amanhã e sonhar com algo melhor se não questionarmos a escola e a sociedade de hoje.