A obesidade infantil não é uma epidemia, é uma pandemia, ou seja, é um problema mundial. Nossas crianças estão engordando cada vez mais, o que não significa que estejam saudáveis – muito pelo contrário, estão obesas e desnutridas. Elas estão muito acima do peso, mas com deficiência de vários macro e micronutrientes, como vitaminas e sais minerais. Isso acarretará em muitos problemas no futuro, tanto em nível de saúde, como desenvolvimento de doenças crônicas e problemas psicológicos, como baixa autoestima, depressão, síndrome de ansiedade, pois o indivíduo obeso é inflamado e a obesidade infelizmente está predisposto a tudo isso.
Não podemos esquecer nosso DNA, mas, muito além do fator genético, os fatores comportamentais, ambientais e psicológicos são determinantes. A vida moderna é um dos principais fatores, e, a partir deste princípio, podemos entender muitas coisas. A falta de atividade física é um dos fatores determinantes dessa pandemia. Hoje em dia, não precisamos mais ir a pé para a escola, subir escadas, brincar na rua, devido à violência. Ipads, celulares e jogos eletrônicos tomaram o lugar de brincadeiras como pique-esconde. Não precisamos levantar nem para mudar o canal da TV, pois temos o controle remoto.
A indústria alimentícia por si só já é uma das causadoras do caos e dessa pandemia: qual é a criança que não vai querer o biscoito com a cara do seu personagem favorito ou ganhar uma lembrança deste, junto com a comida industrializada e de fácil acesso? Vocês têm noção de que um pacote de biscoito recheado tem 50ml de óleo, 30g de açúcares e equivale a oito pães? E fora que, quando escrevem ausência de gordura trans, por exemplo, eles só têm que escrever no pacote acima de determinado valor, e que eles colocam por unidade esse zero (1 unidade tem 0,2% de gordura trans, por exemplo, e abaixo disso não precisa escrever na embalagem, pode se considerar zero). Se somarmos todos os biscoitos do pacote, seria muito mais do que o recomendado? Realmente, é uma concorrência desleal.
E as escolas? Outro problema muito difícil de resolver. Por que elas têm aula de educação ambiental, sexual, orientação profissional e não têm a orientação nutricional? Não devemos deixar toda a educação nas mãos da escola. Estudos mostram que apenas 23% das crianças levam lanches saudáveis para a escola, um dado alarmante. Fora as trocas de lanche entre as crianças e a descriminação contra aquelas que levam frutas ou alimentos saudáveis pelas outras. Muitas crianças não conhecem os alimentos. Estudos e conversas com crianças de 4 a 12 anos mostram que muitas vezes elas não sabem nem os nomes das frutas e vegetais, mas, se mostrar um saco de batata frita, logo respondem: isso é batata.
Como controlar essa pandemia? É preciso fazer uma mudança no estilo de vida de toda a família. Não adianta tentar mudar os hábitos alimentares da criança, se elas não tiverem o exemplo. Comer comida de verdade, como legumes, verduras e frutas, é essencial. Evitar fast food e se alimentar com marmitas e lanches saudáveis. Impor limites e saber dizer não também é muito importante. Claro que são crianças e não precisamos ser radicais demais: uma bala de vez em quando pode, né?
Os pais precisam ficar atentos quando as crianças estão estressadas ou tristes para não desviarem as frustrações para a comida. Então, muito carinho e amor, além de conversa e compreensão, sempre explicando os motivos de cada ação.
Realizar atividade física é fundamental. Brincar de piques, pular elástico, pular corda, queimado, entre outras, e interagir com outras crianças. Estimular a realização de esportes é de extrema importância, além de fazer as crianças saírem da inércia. É preciso também regular e estabelecer horários para uso do videogames, tablets e celulares, e conversar com a escola, fazendo dela uma aliada dos pais, sem jogar toda a responsabilidade na mesma. Enfim, é necessário estimular as crianças a realmente serem crianças, aproveitando ao máximo uma das melhores fases na vida do ser humano.