Perdoar não é esquecer. O filósofo francês Jean Paul Sartre resume a essência do perdão em uma frase: “Não importa o que a vida fez com você. Importa o que você faz com o que a vida fez com você.”
O perdão é, portanto, um ato interno, uma decisão de seguir em frente, apesar do que nos aconteceu. Não perdoar significa ficar preso ao passado e, portanto, preso à dor emocional da mágoa.
É muito difícil, no entanto, perdoar uma situação que foi traumática. A palavra trauma quer dizer ferida, um machucado. Em volta dele criamos uma proteção. São regras que estabelecemos para não nos deixarmos machucar novamente. No entanto, o que fazemos para nos proteger acaba mantendo essa ferida intacta, sem cura.
A mágoa, costumo dizer, é a má – água, aquela água suja, que apodrece dentro de nós e nos deixa afogados, sem forças. Ficamos enxarcados por aquela experiência – ela passa a fazer parte do nosso dia a dia, ruminamos as cenas passadas e o que nos causou. Acabamos nos prendendo a preocupações excessivas com aquela pessoa ou situação.
A mágoa é como uma lama movediça, quanto mais lutamos contra o que nos machucou, mais nos enterramos nessa dor e mantemos o sofrimento.
Perdoar é muito mais sobre nós do que sobre o outro. Perdoar é um processo de cura, que abre o caminho até a ferida do trauma e nos fortalece para novas experiências. Nesse caminho há muito aprendizado. Podemos aprender a blindar o nosso valor nos relacionamentos, podemos aprender a comunicar melhor nossas necessidades e a sermos firmes e gentis ao impor limites.
E principalmente a termos uma percepção mais clara e mais realista do outro e não criar expectativas fundadas na nossa carência e não no que é real. Podemos aprender a romper e a fazer novos acordos para cuidar do nosso bem-estar e respeitando as próprias limitações e as dos outros.
No final, restarão cicatrizes que nos lembrarão de tudo que houve, mas não nos impedirão de seguir adiante. Pois perdoar não é esquecer, é decidir e aprender a seguir sem dor, apesar do que nos aconteceu.
* Artigo da colunista Thalita Martignoni, psicóloga (@thalitamartignoni.psi)