No Brasil, temos em cada grupo 3% de pessoas superdotadas. São pessoas que se destacam em alguma área e que precisam ser percebidas para que seu potencial não se perca, se desvie ou seja usado na contramão dos valores e desejos humanitários. Temos um potencial de violência no país, uma ausência de líderes construtivos e necessidade de ideias e projetos criativos e autossustentáveis que poderiam estar em ação, se houvesse respeito a política de atendimento ao superdotado.
A Constituição brasileira e documentos internacionais determinam às escolas um currículo diferenciado e atento às necessidades dos superdotados. A experiência com superdotados no sistema educacional mostra que a realidade das escolas e a preocupação política e corporativa está aquém do esperado. Enquanto países desenvolvidos mantêm programas construtivos e atentos a esta população, o Brasil desperdiça milhares de potenciais por total falta de compreensão de que o fato de ser superdotado não quer dizer que não se possua necessidades específicas. Nas empresas, os superdotados estão muitas das vezes em posições aquém de sua capacidade.
O descaso com a causa do superdotado começa na ausência de estudo aprofundado desde a formação de professores, espaço fundamental para a identificação inicial, até a universidade onde a temática é vista de forma superficial e sem o devido encaminhamento a projetos científicos de intervenção social. O tema é visto apenas na área de educação, impedindo que os profissionais de saúde possam fazer pontes para o atendimento necessário.
Um dado muito importante de se alertar a população refere-se à confusão no diagnóstico de superdotação. Encontramos superdotados sendo confundidos com TDAH, bipolaridade, esquizofrenia e até autismo! O pior é que tentam medicá-los para desacelerar seu pensamento, seu movimento ou sua contínua capacidade de transformar. A confusão diagnóstica e o desconhecimento dos pais, ou ainda o excesso de informações sem os devidos estudos científicos que venham a clarificar, acabam gerando disfuncionalidade nas famílias.
Vivemos numa sociedade em que a inteligência assusta enquanto deveria ser a regra para toda e qualquer intervenção. Quanto à escola brasileira, com raras exceções, esta perdeu a função mais importante da educação que é trabalhar com projetos educacionais elencados pelos alunos e mediados por um educador pesquisador. Não há criança que não aprenda, se fornecermos a ela afetividade, comunicação, cooperação e documentação histórica. O superdotado pode ser o grande colaborador neste processo mas é preciso ter educadores que consigam visualizar o movimento, a originalidade, o enriquecimento do aluno como caminho para transformação e não como um incômodo que atrapalha a rigidez dos planejamentos.
A inadequação da estrutura pedagógica leva milhares de jovens a depressão, a doenças somatopsíquicas, à inadequação, à liderança do tráfico e outras questões. Estamos perdendo em potencial e riqueza.
Em países como Estados Unidos, Dinamarca e Israel, o cuidado com superdotados é focal e há a compreensão de que, para desenvolver, um país precisa dos superdotados em posições estratégicas. Resta a cada um de nós um olhar mais atento e buscar direcionar estas pessoas para caminhos educacionais construtivos e oferecer apoio clínico sempre que necessário. Este apoio deve ser feito junto a todos os membros familiares.