O Recreio chama a atenção pela exuberante natureza que o cerca. O crescimento do bairro, no entanto, torna-o mais urbano gerando conflito com a natureza. São obras, construções e empreendimentos que chegam à região mensalmente. Na última quarta-feira, 15, o corte de árvores na Alfredo Baltazar da Silveira, visando à duplicação da via, seria mais uma intervenção em meio a tantas outras, não fosse pela atitude do biólogo Demétrio Castellan, que se amarrou a uma árvore com uma fita em protesto.
Certo ou errado, o gesto ganhou repercussão nas redes sociais e a prefeitura, responsável por contratar uma empresa terceirizada para realizar a poda, foi cobrada por alguns moradores.
— Não quero atrapalhar o trabalho da prefeitura, peço apenas que se discuta os projetos com a comunidade. Pelo que me consta, será construído um BRT que ligará Deodoro e Rio 2 ao Mundial, no Recreio, e isso vai interferir na vida de todos — argumenta Demétrio, que ficou amarrado à árvore das 12h às 17h.
— Senti-me agredido, indignado e impotente. As duas últimas árvores remanescentes eles não poderiam mexer. A minha intenção, na verdade, foi a de chamar a atenção dos moradores do Barra Bali para este problema e o que está por vir: a duplicação das pistas da Via 9.
O biólogo, que desde 1984 reside na região, tentou ajudar o bairro em outras oportunidades.
— Eu tinha uma coluna no Jornal de Serviços e uma coluna sobre o complexo lagunar na região. Tentei fazer um jornal voltado para os meio ambiente, fui no vereador à época, busquei investimento na Petrobras, mas o projeto não foi à frente — afirma Demétrio, que hoje vê as pessoas mais informadas e engajadas na questão do meio ambiente.
Ele lembra que a atitude de se amarrar à árvore não foi premeditada e conta detalhes daquela tarde.
— Foi algo que aconteceu na hora. Pensei: vou ficar aqui, não deixarei que a derrubem. Pelo visto, minha exposição não foi em vão. Sei que a parte externa do condomínio pertence à prefeitura, o que se discute é a maneira brutal como as árvores de 20 anos foram eliminadas. Não estamos na ditadura, vivemos numa democracia. Vi uma senhora chorando como criança e isso é bem chato — conclui Demétrio.
A arquiteta Úrsula Castellan, filha de Demétrio, apoia a atitude de seu pai e enumera motivos para a não derrubada das árvores.
— O ato do meu pai, em um primeiro momento, foi de desespero, pois o cenário era injustificável. Mesmo que aquelas árvores tivessem que ser retiradas do local, não há justificativa para derrubá-las; hoje, temos tecnologia de replantio. Afinal, estamos falando de árvores de 20, 30 anos — argumenta.
A fonoaudióloga Andréa Gonçalves lamenta os cortes nas árvores para a construção de empreendimentos, embora reconheça que o crescimento do bairro seja necessário.
— Sei que é importante o crescimento do Recreio, mas devemos preservar a vegetação nativa para melhorar o oxigênio do ar, favorecer áreas de lazer para todos, incluindo idosos e crianças! Sei que uma andorinha só não faz verão, mas atitudes como daquele senhor mostram que, se não fizermos nada hoje, amanhã poderá ser tarde demais — opina a moradora, que também estava presente no local.
A Secretaria do Meio Ambiente, por intermédio da Assessoria de Imprensa, afirmou que a prefeitura, para realizar esse tipo de ação, tem autonomia, desde que passando pelos procedimentos de licenciamento.
Reunião na Associação de Moradores do Recreio
Na próxima segunda-feira, 20 de outubro, às 20h, haverá reunião na Associação de Moradores do Recreio (AMOR), onde os moradores poderão conversar com o subprefeito Alex Costa sobre as obras na Alfredo Baltazar da Silveira (Via 9).
Qualquer um poderá participar. No entanto, os que desejarem fazer reivindicações deverão fazê-lo, até o dia 18, sábado, através do e-mail: amor.amrecreio@yahoo.com.br.
Serviço
AMOR
Endereço: Benvindo de Novaes, 278, Recreio.
Telefone: (21) 2437-8446