A maioria das pessoas que conheço gostam de receitas. A receita é uma orientação que, se a pessoa fizer tudo conforme está escrito, o resultado será padrão, conforme o previsto e desejado. Com as devidas reservas, eu gosto de receita. Ela é conveniente quando não quero ser surpreendido, quando quero aquele resultado específico e não tenho tempo o suficiente para fazer de novo. Receita é paradigma e paradigmas são bons e ruins. São bons à medida que nos poupa tempo e nos garante um resultado previsível. São ruins porque nos fazem andar sempre pelos mesmos trilhos.
Sempre tive muitas reservas com os livros com as receitas de sucesso na liderança. As minhas reservas são facilmente explicadas: são diversas variáveis que determinam o sucesso de um líder. E cada caso de sucesso que estudo percebo que estas variáveis se combinam de formas distintas. Em liderança, nem toda causa gera o mesmo efeito, se fielmente replicada. Numa determinada empresa, a velocidade ao qual um resultado é obtido é uma competência altamente valorizada. Já em outra empresa, a principal competência é a constância dos resultados no período.
Mas a minha intenção com este artigo é compartilhar um passo valioso na liderança, cuja convergência venho percebendo de diversos autores renomados como Dave Ulrich, John Maxwell, Jim Collins, James Hunter, Peter Drucker e Ram Charam.
Segundo a escola Platônica, na alegoria do Navio, numa sociedade, a maior parte das pessoas vão remar, puro trabalho braçal, não irão desenvolver o seu potencial de raciocínio. Alguns são escalados para defender o navio dos outros, cuja principal competência é a habilidade de luta, de guerra. Dois ou três que pensam de maneira diferenciada irão liderar o navio. Lideram aqueles cuja alma é brilhante, cuja alma é nobre, aqueles que sabem tomar as melhores decisões. Quanto melhor a alma, maior a propensão à liderança.
Quando Platão diz isso, ele não está dizendo que o líder é aquele escolhido pela maioria. O critério não está no apreço dos demais. Não há nenhuma razão que o indivíduo seja aplaudido pelos demais. Aliás, o normal é que as pessoas não entendam ele muito bem e nem goste muito bem dele. Como a habilidade dele é pensar e esta é uma habilidade de poucos, então ele será pouco querido e pouco compreendido. O critério da liderança de Platão tem a ver especificamente com a competência intelectiva do líder, sem vínculo nenhum com a legitimidade do líder (o fato dos liderados acharem que fulano deva ser o líder). Platão considera essa “legitimidade” pouco ou nada eficaz. Nicolau Maquiavel, em sua emblemática obra “O Príncipe”, também aponta com maestria este “evento social”, cuja a maioria das pessoas tem medo de tomar decisões por si mesmas, por isso o Príncipe deve decidir pela maioria.
Portanto, o passo para começar uma liderança de sucesso, digo começar absolutamente convicto que este é o pilar que deve sustentar outras competências, é a humildade.
O contrário de humildade é a vaidade. E no meio corporativo liderança e vaidade são quase sinônimos. E a vaidade tira o brilho da liderança ofuscando a visão do líder enxergar o futuro e perceber o ambiente ao seu redor, pois tudo que faz reluz a própria imagem. Você consegue lembrar de um líder que não seja vaidoso? Se sim, sorte sua, não o perca de vista por esse é uma espécie rara de “Líderus Humildis”.
Humildade no contexto de liderança é a ausência da necessidade de sentir-se querido e admirado. Não é pensar exageradamente nos liderados (liderança servidora “Monge e o Executivo”) e nem somente em si. É não carecer dos feedbacks como fonte de motivação. Humildade é fazer o que deve ser feito sem esperar nada em troca. Realizar a partir da convicção de que se o líder sabe o que deve ser feito, para ele só resta uma opção ética: fazê-lo não pelos outros, mas devido à sua mentalidade ética e moral, assim como o mestre Platão definiu lá atrás.
Geralmente, os líderes que agem assim são aqueles que encontram diariamente combustível, paixão para patrocinar a instabilidade e conduzir grupos a níveis maiores e melhores. Não dependem de estímulos externos, pois dentro de si arde uma força, uma alegria, potência para agir e fazer algo que só ele pode fazer.