Conhecido como o mais velho surfista em atividade no Brasil, aos 81 anos, Affonso Freitas (que é pai de Marcelo Freitas, tricampeão mundial de Longboard) mora no Recreio, desde a década de 1980. Ele contou ao portal Utilità Online como foi conquistado pela qualidade de vida oferecida pelo bairro e descreveu como era o Recreio que ele viu crescer. Confira o depoimento e as fotos!
“Já frequento o Recreio desde 1968. Naquele ano eu morava no Arpoador (na Vieira Souto). Já surfava ali, em Ipanema, no Posto 6. Mas as praias do Recreio ainda eram um tabu para o surfe, por causa das ondas sempre mais fortes.
De vez em quando, eu trazia os colegas dos meus filhos para surfar aqui ou na Prainha. Esta, ainda de acesso muito difícil, por uma ponte estreita de madeira. Saltava todo mundo e só o motorista atravessava. Depois, todos reembarcavam.
E assim foram meus primeiros contatos com o Recreio. A Gláucio Gil era toda de terra. Só existia o mercado Ruas, na Avenida das Américas. Uma só pista estreita, de mão dupla e mal asfaltada. Acidentes nessa esquina eram diários. A Gilka Machado só dava acesso até certo ponto (onde hoje existe a ponte). Dalí em diante, só de barco ou com água nos joelhos. Mas a garotada adorava.
Nos anos 80, afinal, comprei um terreno aqui e construí uma pequena casa. Só para os finais de semana. Mas gostei tanto do ambiente, da segurança, da tranquilidade, que logo me mudei em definitivo.
Trabalhava com móveis de escritório. Tinha uma grande loja na Rua do Matoso (Praça da Bandeira), mas não resisti aos encantos diários das praias, dos amplos espaços, das noites tranquilas, de acordar com o canto dos pássaros e deitar ouvindo o coaxar dos sapos.
Essas são as coisas de que mais gosto no Recreio.
Mais ou menos em 1985, abri uma loja de surfe aqui (a Rocky Center) e fechei a loja de móveis. Cortei minhas ligações com a cidade e me instalei em definitivo no Recreio. No começo foi difícil, pois não havia comércio, padaria, mercado. Para quebrar galhos tinha um mercadinho no Terreirão, chamado Gaijin. Tempos depois, abriria a Oficina do Pão, cujo fundador faleceu uns dois anos após.
E assim, mesmo com todas as dificuldades, fui-me enraizando no Recreio. E o bairro foi crescendo. De apenas uma agência do Banco do Brasil, na Avenida das Américas, hoje temos várias, de quase todos os bancos. Os supermercados se multiplicaram. O comércio se diversificou, oferecendo condições de vida a todos. Hoje, Recreio e Barra se confundem numa coisa só.
Meu negócio também cresceu. Hoje oferece condições de acreditar no futuro. A única tristeza que preciso declarar é o fato de estar assistindo à ‘favelização’ da Gilka Machado e entorno. Comércio típico de favelas, moradias idem, trânsito caótico, pilhas de lixo e entulho por todo lado. Isso é impossível de ignorar.
O local onde tenho loja (Avenida Ernesto Trotta) hoje é apenas uma ruela, tomada que foi pelas invasões. Tomaram as calçadas e pistas. Trasnformaram-nas em prédios, lojas, puxadas, dando um aspecto muito feio a um bairro que deveria ser, sem dúvida, nota 10.”
Affonso Freitas
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