“ Como seria belo se cada um de vós pudesse, ao fim do dia, dizer: hoje realizei um gesto de amor pelos outros!” Papa Francisco
Oficializada pela igreja Católica no século IV d.C., a Páscoa é para os cristãos tão ou mais importante que o Natal. Na verdade, é do hebraico “Pessach” (passagem) que se origina o termo em português Páscoa. Para os cristãos, a Páscoa celebra a Paixão e ressurreição de Cristo. Para os judeus, a Páscoa/Pessach celebra a libertação do povo de Israel que fora escravizado pelos egípcios.
A Páscoa cristã recebeu o nome da comemoração judaica porque a Paixão de Cristo aconteceu no início do “Pessach”. Apesar de receberem o mesmo nome, as duas celebrações não ocorrem necessariamente nas mesmas datas. O bonito é que ambas celebram passagens, da escravidão à liberdade, da morte à vida.
Talvez em nenhuma outra cultura a relação religião/alimentação seja tão íntima como na judaica. Alimentos e bebidas consumidos em celebrações religiosas judaicas, permitidos para consumo de acordo com o Tora são chamados Kosher, palavra hebraica que significa apto, certo, digno de confiança…
Neste artigo, iremos conhecer um pouco mais as regras para um vinho se tornar Kosher.
Em primeiro lugar, todo o processo desde o plantio das uvas até o engarrafamento do vinho deve ser supervisionado por um rabino.
Diferente do que alguns pensam, os vinhos Kosher não são elaborados com uvas específicas ou diferentes das usadas nos vinhos que conhecemos. Esses vinhos também são elaborados nos principais países produtores, mesmo que em pequenas quantidades. Até em Israel, nem todos os vinhos são Kosher. Embora, a indústria vinícola do país, tenha sobrevivido graças à exportação desses vinhos.
Nos vinhos Kosher, as videiras não podem ter idade inferior a quatro anos. Após a primeira colheita, o vinhedo deve descansar a cada sete anos (ano sabático). Nesses locais, nenhuma outra planta deve ser cultivada. As uvas devem ser colhidas manualmente e “necessariamente” por judeus, não podendo ser colhidas ou transportadas nos finais de semana. Devem estar em perfeito estado quando chegarem à vinícola. Claro, que nem todos os funcionários das vinícolas praticam o Sabbath, a eles é permitido manusear as uvas, porém não podem tocar no mosto e no vinho. Nesses casos, eles passam as instruções do processo ao rabino para que o mesmo possa se responsabilizar.
O processo de pisa, muito usado nos vinhos do Porto, é proibido, uma vez que o método tornaria as uvas impuras aos olhos dos judeus. Os vinhos devem ser vinificados em tanques de aço inox, sendo os barris permitidos somente para envelhecimento. As leveduras devem ser nativas, ou seja não é permitido o uso de leveduras selecionadas geneticamente. Na clarificação o único agente filtrante permitido é a bentonita, e as garrafas usadas devem ser novas. A renda obtida na venda de vinhos Kosher deve ter 1% de seu resultado revertido para caridade.
É fácil identificarmos esses vinhos, em geral a letra “U” ou “K” dentro de um círculo ou moldura são encontrados nos rótulos ou contra rótulos.
Esses vinhos podem ser divididos em dois tipos, Kosher “Mevushal” (cozido em hebraico) e Kosher “não-Mevushal”.
O vinho do tipo Kosher Mevushal é submetido a um processo de aquecimento, até quase atingir o ponto de ebulição, ou seja, é praticamente cozido(pasteurizado). Por isso, é também chamado de “kosher-cozido”. Esses vinhos são em geral, doces. O aquecimento a que é submetido esses vinhos, baseia-se em princípios de segurança alimentar e religiosos. O método “Mevushal” é exigência de sacerdotes mais rigorosos, porém o mesmo torna os vinhos com menos qualidade. Para reduzir os danos provovados pelo processo, uma moderna técnica chamada de pasteurização-flash, tem sido usada. Ela consiste no aquecimento e resfriamento do vinho em um curtíssimo espaço de tempo.
O vinho do tipo Kosher “não-Mevushal”, por sua vez, é um vinho normal (“não-cozido”) e apresenta todas as características como cor, aroma e sabor presentes nos vinhos que conhecemos.
Feliz Páscoa, que seja uma passagem rumo à alegria, à paz e ao amor!