Lembro bem como se fosse hoje, entrei civil e saí militar. Era o dia da nossa apresentação. O cabelo já estava no estilo “reco”. O meu e de toda a turma que adotava voluntariamente, sim voluntariamente um novo padrão visual e de comportamento.Eu fiz o CPOR no Rio de Janeiro, que é o Centro de Preparação de Oficiais da Reserva. Um tipo de cabelo, alguns tipos de farda, um tipo de postura, um paradigma. Em paralelo (pasmem!), cursava Comunicação Social numa universidade particular na Barra da Tijuca. No quartel, os oficiais ficavam desconfiados quando descobriam o meu curso, afinal havia pouco tempo que os fuzis lutavam contra as canetas ferozes dos jornalistas durante a ditadura militar no Brasil. Na faculdade, meus professores, muitos deles participantes ativos das “Diretas Já” e movimentos contra a ditadura, ficavam também um pouco receosos comigo.
Nesse tiroteio de paradigmas, estava eu buscando a minha identidade. Hoje, percebo que investi um bom tempo buscando algo que sempre esteve dentro de mim, a minha autenticidade. E autenticidade todo mundo tem, mas poucos encontram coragem para assumi-la. Alguns vendem, outros escondem bem fundo que acabam perdendo dentro de si.
Em meu trabalho como coaching e professor em cursos de pós-graduação e MBA tenho encontrado muita gente igual, sem sal. Uns doces, comuns. Outros amargos, também comuns. Aqui a minha referência por comum é a ausência de algo que seja interessante, emocionante, apaixonante, que celebre a vida. Assim como eu, tem muita gente confundindo a busca pelo conhecimento pela busca por uma identidade. Muita gente se esforçando para se parecerem umas com as outras. Pare só para perceber, desde as roupas até o jeito de falar como que somos primatas imitadores!
Segundo Karl Marx “O ser humano é produto do meio”, acabando por ser uma mistura de tudo aquilo que o cerca. Caso seja uma verdade, essa afirmativa é bem reveladora, pois se nos cercarmos de coisas variadas e diferentes seremos um produto interessante. não?
Confesso que ando meio entediado com diversos alunos conhecidos que estão escondendo as histórias e suas habilidades atrás de diplomas e títulos. Pessoas que cobrem com o manto da covardia afirmando diariamente que “precisam se preparar mais”, enquanto o tempo passa à sua frente levando consigo as oportunidades de fazer algo que valha à pena.
Estou cansado de realizar processos seletivos e me frustrar, criar expectativa de existir algo a mais atrás daquele currículo sem tempero. Sou testemunha de muitos candidatos preparados para lutar uma guerra que já passou. Meninos e meninas com mentalidade escolar buscando ser “aprovados” num processo seletivo a partir das respostas certas. Buscando talvez, uma média 7,0. Média, medíocres.
Foi publicada recentemente uma matéria na imprensa a respeito das principais características que o Google valoriza e busca no processo de recrutamento e seleção. São eles: curiosidade, capacidade de aprender, humildade, motivação e liderança. Quando vi a matéria eu levantei a placa nas redes sociais do “Eu te disse” para meus clientes e alunos. No jogo atual, conhecimento sem atitude não tem vez.
Todas as características listadas pelo pessoal do Google são realmente muito valiosas, mas se não tiver autenticidade, as demais características não valerão de nada. As empresas estão carentes de pessoas autênticas. Segundo a professora Brené Brown “Autenticidade é a prática diária de abandonar quem nós pensamos que devemos ser e assumir quem somos.”
Jesus num de seus principais sermões, o sermão da montanha, fala para os seus discípulos “Vocês são o Sal do mundo”. E se o sal for insípido, como fará para salgar? “Não presta para mais nada senão para ser jogado fora e pisado pelos homens.” E pelo que podemos constatar, eles entenderam o ensinamento e revolucionaram o mundo, a sua geração e as gerações seguintes, ao ponto do Evangelho chegar até nós nos dias de hoje.
Nem soldado, nem revolucionário, eu só queria ser eu mesmo. Recheado de ideias, emoções e fragilidades que começaram a vir à tona, e são chamados pelos outros de habilidades. São elas que fazem me sentir diferente e fazer a vida valer à pena. Nem melhor, nem pior, simplesmente diferente. Na multidão de pessoas parecidas, doces e amargas, é possível encontrar algum sal?