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Transição de carreira militar: o que as empresas ganham ao contratar esses profissionais?

A transição de carreira não é um assunto novo, mas com certeza tem se tornado muito comum nas últimas décadas. As estatísticas mostram que pelo menos 49% dos empregados já fizeram uma mudança de carreira ao longo da vida. Para quem está no mundo privado essa movimentação até parece mais comum, mas como ocorre quando a mudança de carreira envolve sair da vida militar para a vida privada?

Será que essa transição ocorre de forma menos turbulenta? E como o mundo corporativo enxerga esse profissional? A vida militar é com certeza uma das mais diferentes quando falamos de um funcionário público, essa diferença começa em sua formação.

A formação dele exigirá que ele esteja num período de internato enquanto está estudando, algo que não acontece em outras áreas públicas. Partindo já deste ponto, sabemos que há uma cultura na área em que ele aprende a pensar, e uma das vantagens está na disciplina e resiliência que incute na pessoa ao longo dos anos.

A capacidade de se manter focado e atingir as metas é um diferencial em um profissional, seja ele de qual área for, e saber trabalhar sob pressão se tornou um ponto crucial nos dias em que vivemos, em que gerir pensamentos e emoções se tornaram importantes para lidarmos com os desafios profissionais.

Outro fator importante que devemos entender é que o militar, ao longo de sua carreira, desde a sua formação, é preparado para liderar, e ao longo de toda a vida irá exercer essa isso de forma prática, seja de pequenos ou grandes grupos. Ele irá liderar sob pressão para que as metas e objetivos sejam alcançados no prazo determinado e da forma que se planejou, sem deixar que a disciplina seja afetada pelas pressões que as demandas trazem.

Portanto, o militar é alguém que aprendeu a liderar não nos bancos escolares, de forma teórica, mas na prática da vida diária, com responsabilidades reais e de riscos, muitas das vezes.

Mas, infelizmente, nem tudo são flores e benefícios de se estar muito tempo nessa cultura organizacional. Um grande desafio é a maneira como o mundo corporativo enxerga o profissional militar. Muito se deve por poucos conhecerem a realidade dessa cultura, conhecendo ela apenas por fragmentos de verdades.

Contudo, é verdade que um dos pilares do exército, a hierarquia, torna a comunicação muito rígida e direcional, o que a faz incompatível com a realidade dinâmica das empresas, onde a comunicação precisa ocorrer nas mais diversas direções para que se possa responder ao mercado no tempo correto e da forma correta.

Outra percepção interessante, mas não totalmente verdadeira, é a rigidez do profissional militar. A aparência aponta o militar como alguém pouco criativo e muito “engessado” por causa das regras e dos regulamentos. Em uma análise um pouco mais atenta, podemos ver que o bom profissional é alguém que aprendeu a ser flexível dentro das regras, isso é o contrário de burlar elas, mas aprender a enxergá-las como um balizador e não como um limitador.

O que contribui de uma forma especial para que as empresas possam ser criativas sem perderem a sua essência ou mesmo seus valores. Portanto, podemos concluir que o maior desafio na mudança de carreira de um militar para o meio corporativo está na visão que ambos os lados possuem entre si, devido ao desconhecimento de suas culturas organizacionais.

Para ter bom êxito, o militar que deseja entrar neste novo mundo, deve conseguir explicar como, por exemplo, a liderança, planejamento estratégico e cumprimento de missão se traduz em gestão de projetos, liderança de times e resolução de problemas ou como sua disciplina, foco e criatividade dentro das regras pode se tornar um diferencial para a empresa que decide contratar um profissional oriundo do militarismo.

Por mais que pareçam distantes em suas culturas, nunca esses dois mundos precisaram tanto um do outro para evoluírem e crescerem. Foi exatamente essa interação que trouxe grandes avanços para a humanidade, como a internet, GPS e cadeias logísticas complexas. Portanto, sempre que houver integração entre esses dois mundos, existe avanço.

carreira* Artigo de Gustavo Lyrio, especialista em Liderança, Desenvolvimento Humano, Equipes e Alta performance. É Bacharel em Ciências Militares pela AMAN, pós-graduado em Operações Militares e possui MBA em Gestão de Pessoas e Educação Corporativa (Anhanguera). Atua com consultoria estratégica em liderança, Compliance, gestão de riscos e logística, mentorias para líderes corporativos e comunitários.

É oficial da reserva do Exército Brasileiro, especializado em aviação, com mais de 28 anos de carreira, foi instrutor e mentor no Centro de Instrução de Aviação do Exército e Escola Preparatória de Cadetes do exército, além de ser palestrante, autor e apresentador de programa sobre liderança e família.

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