As medidas de quarentena recomendadas pela Organização Mundial da Saúde e que estão sendo adotadas pela maioria dos países, por conta da pandemia da Covid-19, fez com que muitas pessoas tivessem que mudar sua rotina de vida e de trabalho. Algumas pessoas, inclusive, têm que administrar uma nova demanda: o home office ou home work: como continuar trabalhando, mas, agora, dentro de casa? Com as tarefas domésticas, os filhos, às vezes, mãe e pai, ou mesmo avós?
Diante desses questionamentos, precisamos fazer uma análise sobre o que esses acontecimentos geraram na vida das pessoas, tanto a nível pessoal, quanto profissional. O que estamos aprendendo com tudo isso? Quais são as descobertas que estamos fazendo quando a gente tem que voltar até por obrigação ou imposição ao universo de família? O que temos que aprender sobre relações humanas dentro das nossas casas e dentro das nossas famílias? Nós reclamamos tanto de falta de tempo para com os nossos filhos, para com a nossa casa, os nossos afazeres, e agora nós temos todo tempo do mundo e estamos sofrendo porque não sabemos o que fazer com ele.
Outro dilema, para muitos, é acreditar que precisam (e podem) voltar ao que era antes, até para fugir das reformas que eles precisam fazer deles mesmos. Precisamos começar essa reforma dentro de cada um de nós, para nos transformarmos. O que vamos fazer com tudo isso que estamos vivendo? Essas são questões fundamentais que eu tenho que responder quando voltar para mim, para a minha primeira, verdadeira e única casa, que sou eu, meu corpo, minha mente, meu espírito. E depois, tenho que voltar-me para minha segunda casa, que é a casa onde eu moro, com meus familiares, com as pessoas que eu amo, mas que eu não estou agora sabendo lidar. É tanto tempo junto que até criamos confusão, porque nós não aprendemos relações interpessoais para praticarmos com a família, com o filho ou marido, e não aprendemos também a lidar com a ausência, porque agora nós não podemos entrar em contato com as pessoas que amamos e ficar com elas, estar com elas, abraçá-las. Então, nós aprendemos a lidar com as relações interpessoais de uma forma profissional, mas, nunca tivemos a coragem, a necessidade e até a visão de que as relações humanas e as relações interpessoais também estão presente nas famílias, dentro desse universo micro que nós vivemos. E a terceira casa é a sociedade, o planeta: como as pessoas desse planeta estão se relacionando umas com as outras? Quanta bobagem está sendo dita, de falta de solidariedade, de falta de compreensão, de falta de ética com outro! Quer dizer, o pensamento de muitos é: eu prefiro que o outro volte a trabalhar, se coloque em risco de contaminação, em vez de deixá-lo em casa, cuidando da sua vida e da vida das pessoas que o amam.
A referência que está aparecendo cada dia mais forte é o ter em detrimento do ser. Quando eu estou preocupado com a minha empresa, com o meu lucro, com o dinheiro que não está entrando, eu estou fazendo a opção pelo lucro, pelo dinheiro. Mas agora é o momento perfeito para prestar atenção nos que antes estavam invisíveis: as pessoas, que acordam cedo e pegam ônibus, trem ou metrô lotados para cumprir com suas responsabilidades; os vizinhos de rua ou apartamento; os profissionais de saúde, da limpeza e coleta de lixo; os professores, etc. Hoje é possível dizer quem realmente faz a diferença na sociedade.
Não existe economia forte sem pessoas saudáveis. Podemos ver empresas e grandes lojas fechadas, assim como pequenas e médias, mas sem funcionários e consumidores para fazê-las funcionar, É hora de nos preocuparmos com o que realmente importa nesse momento – como vamos nos cuidar e cuidar de quem nós amamos, de quem nos é próximo, ou mais vulnerável – e nos prepararmos para o retorno. Porque tudo isso vai passar, porém, não tem como voltarmos ao que éramos antes.