O Dia Internacional do Orgulho LGBTI+, 28 de junho, será marcado no Rio pela inauguração das três primeiras placas do Patrimônio Cultural Carioca do Circuito da Diversidade. A iniciativa é da Prefeitura, por meio da Secretaria de Cultura em parceria com a Coordenadoria Executiva da Diversidade Sexual e o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade.
As placas serão instaladas nos seguintes endereços: Cabaret Casanova (Av. Mem de Sá, 25, Centro), palco de apresentações de artistas emblemáticos como Madame Satã; Largo da Carioca (endereço do extinto jornal “A Pátria”), em homenagem a João do Rio — jornalista, cronista, contista e teatrólogo que completa seu centenário de morte este ano; e no Parque do Flamengo (Parque do Flamengo, em frente à Rua Dois de Dezembro), em homenagem a Lota de Macedo Soares, onde haverá cerimônia de lançamento na segunda-feira (28) às 15h.
Além do lançamento do Circuito, o Dia do Orgulho LGBTI+ também será celebrado em um seminário promovido pela Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro, em parceria com a Coordenadoria Executiva da Diversidade Sexual. Intitulado “Stonewall carioca: avanços, resistências e história da cidadania LGBTI no Brasil a partir do Rio de Janeiro”, o debate será transmitido pelo YouTube da OAB/RJ, a partir das 10 horas, e discutirá o reconhecimento dos direitos civis dos cidadãos LGBTI+ brasileiros nas últimas duas décadas, a partir do pioneirismo carioca na criação de legislações de combate à discriminação e na luta por direitos constitucionais da população LGBTI+.
Entre os participantes confirmados, estão Raquel Castro, presidente da Comissão Especial da Diversidade Sexual e Gênero do Conselho Federal da OAB, Rodrigo Pacheco, Defensor Geral da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, e Henrique Rabello, presidente da Comissão de Diversidade Sexual e de gênero da OAB-RJ.
A agenda do dia do Orgulho LGBTI+ se encerra com uma sessão solene promovida pela Câmara dos Vereadores, com transmissão ao vivo pela TV Câmara, a partir das 16h. Na cerimônia, serão homenageados ativistas do movimento LGBTI+ carioca.
Comemorado há mais de 50 anos, o Dia do Orgulho LGBTI+ marca um dos episódios mais marcantes na luta dessa população por seus direitos: a Rebelião de Stonewall Inn, em Nova York, em 1969. O estopim da revolta foi uma série de invasões a bares frequentados por pessoas LGBTI+. A data foi conquistada por meio de muita luta e insistência de personagens como as ativistas transexuais Marsha P. Johnson e Sylvia Rivera.
Cabaret Casanova
Aberto em 1937, com o nome Viena Budapeste, o espaço renomeado Cabaret Casanova era considerado um dos espaços mais antigos da Lapa. Acredita-se que lá Noel Rosa teria composto a música “A Dama do Cabaré”, depois de levar um fora de uma amante.
Situada na Avenida Mem de Sá, a casa foi referência na noite LGBTI+ do Rio — em especial, devido às apresentações de ícones da arte drag brasileira, como Laura de Vison e Meime dos Brilhos. Foi no Casanova que se formou o grupo Dzi Croquettes e que o lendário Madame Satã fez suas últimas incursões pela Lapa boêmia. O espaço também recebeu artistas como Carlos Machado e Alcione, até fechar as portas, nos anos 2000.
João do Rio
Em 2021, completa-se o centenário da morte do jornalista, cronista, contista e teatrólogo João do Rio (1881-1921). Um dos grandes nomes da imprensa brasileira, João popularizou entre nós as então novidades da entrevista e da reportagem in loco, possibilitando que os jornalistas saíssem das redações e fossem para a rua. Fundou o jornal A Pátria, que funcionou no Largo da Carioca, no Centro do Rio.
É considerado o maior cronista da cidade, tendo percorrido das favelas aos salões da sociedade, e assinado contos e peças de teatro de sucesso. Foi membro da ABL e diretor da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT). Apesar de seus inúmeros desafetos, que o atacavam por sua afrodescendência e homossexualidade, alcançou tamanho prestígio junto à sociedade da época que cerca de cem mil pessoas estiveram presentes em seu enterro, no cemitério São João Batista.
Dito “o pai da crônica”, este gênero tão afeito à nossa proverbial preguiça e talento para o papo furado, João do Rio era gay, dândi, sofisticado, ao mesmo tempo descendente de negros recém-libertos e de brancos oligarcas, políticos influentes. A obra desse cronista da vida carioca antecipa muitas características do modernismo. Pode-se relacioná-la à produção em prosa de Oswald de Andrade e ao jornalismo de nossos dias.
Lota de Macedo Soares
Filha de brasileiros, a arquiteta-paisagista e urbanista autodidata Lota de Macedo Soares (1910-1967) nasceu em Paris, na França. Na década de 1960, a convite do então governador Carlos Lacerda, foi uma das idealizadoras do projeto do Parque do Flamengo, o maior aterro urbano do mundo.
Em 2013, teve parte de sua vida ilustrada no cinema, com o filme “Flores Raras” (de Bruno Barreto), que narra seu relacionamento com a poetisa norte-americana Elizabeth Bishop. Nas telas, Lota foi interpretada pela atriz Glória Pires. A escritora e a arquiteta foram casadas de 1951 até 1965 e moravam na casa Samambaia, em Petrópolis. O filme também ilustra o triângulo amoroso protagonizado pelas duas com Mary Stearns Mors, ex-companheira de Lota.
Por que 28 de junho é o Dia do Orgulho LGBTI+?
Na madrugada de 28 de junho de 1969, um grupo de policiais disfarçados invadiu o bar Stonewall Inn, localizado no bairro de Greenwich, em Nova York, e prendeu frequentadores do local, alegando “conduta imoral”. Enquanto os agentes aguardavam as viaturas que transportariam os detidos, uma multidão de simpatizantes se reuniu do lado de fora do estabelecimento, impedindo a saída dos policiais.
A abordagem violenta da polícia local resultou num confronto direto com os manifestantes. Naquela noite, a Força de Polícia Tática de Nova York precisou ser acionada para amenizar a confusão. No entanto, os protestos continuaram no dia seguinte, e se espalharam por outros pontos da cidade. Mais tarde, eles dariam origem às primeiras paradas do Orgulho LGBTI+.
Embora a luta contra a discriminação pela orientação sexual e a identidade de gênero remonte ao século XIX, o dia 28 de junho foi adotado como Dia Internacional do Orgulho LGBTI+, em referência a Stonewall.
Agenda do Dia do Orgulho LGBTI+ (28/06):
10h: Seminário “Stonewall carioca: avanços, resistências e história da cidadania LGBTI no Brasil a partir do Rio de Janeiro”. Transmissão ao vivo pelo YouTube da OAB/RJ.
ABERTURA: Luciano Bandeira – Presidente da OAB/RJ
Ana Tereza Basílio – Vice-presidente da OAB/RJ
Carlos Tufvesson – Coordenador Executivo da Diversidade Sexual da Prefeitura do Rio
PALESTRANTES: Raquel Castro – Presidente da Comissão Especial da Diversidade Sexual e Gênero do Conselho Federal da OAB.
Rodrigo Pacheco – Defensor Geral da Defensoria Pública do Rio de Janeiro
Henrique Rabello – Presidente da Comissão de Diversidade Sexual e de gênero da OAB-RJ 10h45min Às 11h
Des. Ivone Ferreira Caetano – Desembargadora aposentada do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, Diretora Presidente da Diretoria de Igualdade Racial da OAB-RJ.
Daniel Bucar – Procurador Geral do Município do Rio
Carlos Tufvesson – Coordenador Executivo da Diversidade Sexual da Prefeitura do Rio
MEDIAÇÃO: Giowana Cambrone – Advogada, Ativista e professora de Direito da Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA). Ativista de Direitos Humanos. Mestranda do Programa de Políticas Públicas e Direitos Humanos (PPDH/UFRJ)
15h: Lançamento do Circuito da Diversidade Sexual, com inauguração da placa em homenagem a Lota de Macedo Soares. Parque do Flamengo, altura Rua Dois de Dezembro (próximo à Pedra Lota).
16h: Sessão solene na Câmara dos Vereadores. Transmissão ao vivo pela TV Câmara.