Vivemos em um mundo acelerado, onde o excesso de estímulos e responsabilidades pode sobrecarregar o sistema nervoso, causando cansaço mental, dificuldade de concentração e até esgotamento emocional.
Atualmente, as crianças são submetidas ao excesso de atividades e, como o cérebro infantil ainda está em desenvolvimento, pode sofrer uma série de impactos negativos capazes de afetar a memória, a atenção e o bem-estar emocional e físico.
As brincadeiras são um pilar vital no desenvolvimento das crianças
Então as férias são um período necessário para manter o equilíbrio físico, mental e emocional dos pequenos. É o momento para a pausa necessária, permitindo a renovação de energia e a melhoria na qualidade de vida.
A brincadeira é uma ferramenta poderosa para o bem-estar e desenvolvimento infantil, com benefícios abrangentes, que vão desde o fortalecimento das habilidades emocionais, cognitivas, sociais e motoras, até o desenvolvimento da criatividade, motricidade e saúde física.
Além disso, brincar é uma forma de aprendizado que se dá de maneira natural e divertida, permitindo que as crianças se desenvolvam de maneira equilibrada e saudável, ao mesmo tempo em que cultivam satisfação emocional e criam memórias duradouras. Por isso, é fundamental que os pais incentivem as brincadeiras como um pilar essencial do desenvolvimento dos seus filhos.
A brincadeira ainda ajuda no desenvolvimento das funções executivas, que são um conjunto de habilidades cognitivas, como planejamento, controle e regulação do comportamento, tomada de decisões, resolução de problemas e organização de tarefas, para que as crianças — e, posteriormente, os adultos — possam lidar com as demandas do dia a dia de forma eficaz e adaptativa.
Durante a brincadeira, elas têm a oportunidade de resolver desafios, fazer escolhas, experimentar e entender causa e efeito e desenvolver habilidades cognitivas complexas que são a base para o aprendizado acadêmico e para a adaptação a novas situações e desafios.
• Jogo de construção: montar blocos ou brinquedos de encaixar ensina noções de espacialidade, sequência e lógica.
• Quebra-cabeça e jogo de encaixe: trabalham a concentração, percepção espacial, raciocínio lógico, entre outras habilidades cognitivas.
• Caça ao tesouro: trabalham a memória, o foco e resolução de problemas.
• Jogo da memória: estimula a memória, a atenção e o reconhecimento visual.
• Jogo de “vendedor e comprador”: desenvolve habilidades sociais, matemáticas e de comunicação.
• Brincadeira de cores e formas (jogo de classificação): desenvolve habilidades de classificação, percepção visual e concentração.
A brincadeira oferece oportunidades para que as crianças interajam com outras pessoas e aprendam a negociar, cooperar, compartilhar e resolver conflitos. Durante o jogo, as crianças aprendem regras e limites sociais, expressam emoções e aumentam a empatia.
• Jogos de tabuleiro: ensinam as crianças sobre disciplina, regras, respeito aos outros e compartilhamento.
• Jogo de faz de conta: a criança pode explorar e expressar diferentes emoções, como alegria, medo, raiva, tristeza, através das personagens que cria, promovendo o aprimoramento da inteligência emocional. Além disso, ao brincar de papéis sociais, como mãe/pai ou médico/paciente, ela amplia a capacidade de compreender as perspectivas dos outros, algo essencial para a empatia.
Ao assumir papéis de liderança ou tomar decisões no jogo (como ser o “chefe” de uma loja), elas ainda aprendem a lidar com responsabilidades e tomar decisões. Esse tipo de brincadeira também estimula a capacidade de pensar simbolicamente e entender como os diferentes elementos se relacionam em uma história, auxiliando no desenvolvimento cognitivo.
As brincadeiras também têm um papel vital no desenvolvimento motor das crianças. A aquisição e o refinamento das habilidades motoras influenciam diretamente outras áreas do desenvolvimento infantil, como a cognição, a linguagem, a socialização e a emoção. Atividades como correr, pular, desenhar ou brincar com massinha ajudam no aprimoramento das habilidades motoras finas e amplas. Por exemplo:
• Brincadeiras ao ar livre: correr, saltar e brincar com bolas são atividades essenciais para o desenvolvimento da coordenação motora grossa, além de ajudar a criança a controlar os movimentos de seu corpo, melhorar o equilíbrio e a agilidade.
• Atividades manuais: desenhar, pintar, fazer origamis ou manipular brinquedos de encaixar são atividades que desenvolvem a coordenação visomotora (olho-mão) e fortalecem os músculos pequenos das mãos.
• Atividades de pintura e desenho: aumenta a coordenação motora fina, incentiva a criatividade, o reconhecimento de cores e formas e estimula a expressão artística.
• Atividades de modelagem (massinha ou argila): trabalham as habilidades motoras finas, criatividade e concentração.
• Brincadeiras com água e areia: desenvolvem a percepção sensorial e as habilidades motoras.
A brincadeira livre, especialmente o faz de conta, é um espaço onde a criança pode explorar sua criatividade sem limitações. Através do jogo simbólico, ela cria histórias, inventa personagens e constrói cenários, o que desenvolve sua capacidade de imaginar e criar.
Esse tipo de brincadeira promove o pensamento divergente — a criança aprende a pensar de maneira flexível, a buscar diversas soluções para um problema e a experimentar diferentes formas de abordar uma situação —, a capacidade de invenção e experimentação. Ao brincar com diferentes materiais ou inventar novas histórias, a criança tem liberdade para experimentar e explorar, o que é um estímulo importante para sua criatividade.
• Leitura interativa: escolha livros com ilustrações e leia para seu filho. Durante a leitura, faça perguntas sobre as imagens, peça para a criança adivinhar o que pode acontecer na história ou até inventar finais alternativos. Esse tipo de leitura incentiva o desenvolvimento da linguagem, da imaginação e da habilidade de escuta.
A brincadeira também é uma ferramenta importante para o desenvolvimento linguístico. Ao interagir com outras pessoas durante o jogo ou contar histórias no faz de conta, as crianças têm a chance de expandir seu vocabulário, praticar a construção de frases e aprimorar a comunicação verbal e não verbal.
• Jogos de imitação e faz de conta: estimulam a linguagem simbólica, possibilitando que a criança use palavras e expressões para representar objetos e situações que não estão fisicamente presentes.
• Brincadeiras de grupo ou narrativas: durante brincadeiras com amigos ou familiares, as crianças aprendem a expressar ideias de maneira mais organizada e a usar palavras novas para descrever o que sentem, pensam e desejam.
O brincar também é fundamental para que as crianças desenvolvam a autonomia, pois durante a brincadeira elas precisam tomar decisões, resolver problemas e lidar com as consequências de suas escolhas. Isso ajuda a aumentar sua autoconfiança e a capacidade de agir de forma independente, mesmo em situações desafiadoras.
• Atividades de construção: ao montar algo sozinha ou resolver um quebra-cabeça, a criança começa a entender seu próprio poder de resolução de problemas e a confiar mais em suas habilidades.
• Atividades de jardinagem: ensinam responsabilidade, paciência e consciência ambiental.
• Brincadeiras ativas: a brincadeira ativa, como correr, pular ou dançar, tem impacto direto na saúde física da criança. Além de melhorar as habilidades psicomotoras, ajuda a manter a criança ativa fisicamente, o que é essencial para o seu crescimento e bem-estar geral.
Durante a brincadeira ativa, são liberadas endorfinas que reduzem o estresse e melhoram o humor da criança, além disso, promove hábitos saudáveis, ajuda a controlar o peso, aumenta a resistência física e o desenvolvimento muscular. Exemplos: “esconde-esconde” ou “pique-pega”.
• Atividades de yoga ou meditação: melhoram o equilíbrio, o autocontrole e reduzem o estresse, habilidades de relaxamento, além de fortalecer a conexão entre pais e filhos.
• Brincadeiras de música e dança: crie instrumentos caseiros, como tambores, com potes ou chocalhos com garrafas, e faça uma bandinha com seu filho. Também podem cantar e dançar juntos, imitar sons de animais ou até criar uma história musical. Esse tipo de brincadeira desenvolve percepção auditiva, ritmo e coordenação motora grossa.
* Artigo da colunista Daniela Ferreira, Mestre em Educação, Neuropsicopedagoga, Pedagoga, Psicopedagoga, especialista em Neurociência e Análise do Comportamento Aplicada (ABA), CEO do Instituto Neuroestar, do Consultório Cognitivo e criadora do Neuroestarcast. (@neuropsicodanielaferreira).