A vida moderna está repleta de facilidades tecnológicas que nos ajudam no dia a dia mas, que também favorecem um estilo de vida nada saudável. Nesse contexto, muitas pessoas se alimentam mal (“fast foods”), fazem pouca ou nenhuma atividade física, estão estressadas (com depressão e/ou ansiedade), dormem mal, fumam, consomem bebidas alcoólicas demais e frequentemente se encontram acima do peso (no Brasil, mais da metade da população está acima do peso e um em cada cinco brasileiros está obeso). Assim, é crescente o número de pessoas com doenças crônicas relacionadas ao estilo de vida inapropriado, tais como doenças cardiovasculares, diabetes, doenças pulmonares crônicas e diversos tipos de câncer.
A medicina convencional está muito voltada para o tratamento das doenças utilizando medicamentos e alta tecnologia, levando a um custo alto com risco de vários efeitos adversos. Estima-se que nos EUA a terceira causa de morte seja relacionada a eventos adversos de medicamentos. Dificilmente, um médico faz avaliações, recomendações ou prescrições de hábitos de vida saudáveis (alimentação, exercícios físicos, higiene do sono, interrupção do tabagismo, controle do estresse mental), quando sabe-se que cerca de 80% das doenças crônicas não transmissíveis poderiam ser evitadas através de uma vida baseada em hábitos saudáveis. Adultos que aos 50 anos de idade apresentam menos de 2 fatores de risco possuem aumento de 10 anos na expectativa média de vida.
A medicina de estilo de vida (“lifestyle medicine”) representa uma opção a esse modelo convencional de cuidado baseado em medicalização. Ela previne e também trata as doenças relacionadas ao estilo de vida não saudável. Dentre várias definições, se destaca aquela do Colégio Americano de Medicina de estilo de Vida (“American College of Lifestyle Medicine”): “Medicina de Estilo de Vida é o uso terapêutico de intervenções de estilo de vida baseadas em evidências para tratar e prevenir doenças relacionadas ao estilo de vida em um cenário clínico. Ela capacita os indivíduos com o conhecimento e as habilidades de vida para fazerem mudanças de comportamento eficazes, que abordem as causas subjacentes da doença.”
Uma importante distinção deve ser feita entre a medicina de estilo de vida e outras disciplinas, tais como a medicina preventiva, a medicina funcional, medicina personalizada, medicina alternativa e medicina integrativa. Existe entre essas alguma sobreposição nas áreas de intervenção e nos objetivos, porém há diferenças importantes na filosofia e no âmbito de aplicação. A medicina preventiva é centrada na saúde de indivíduos, comunidades e populações definidas, tendo como objetivo proteger, promover e manter a saúde e o bem-estar, prevenindo a doença, incapacidade e morte. A medicina funcional preconiza abordagens relativas ao equilíbrio dos processos funcionais centrais no corpo, tais como metabolismo celular, digestão, detoxificação e controle do estresse oxidativo. Aborda mecanismos bioquímicos e fisiopatológicos das doenças em nível orgânico e celular, com o uso de produtos farmacêuticos, nutraceuticals e suplementos. A medicina individualizada ou personalizada tenta adaptar intervenções médicas em termos de estratificação de características genéticas e marcadores biológicos. A medicina alternativa se caracteriza por uma série de práticas, produtos e sistemas de cuidado da saúde (acupuntura, biofeedback e nutracêuticos), considerados fora da medicina convencional e substituindo a mesma. A medicina integrativa enfatiza a integração do tratamento convencional e intervenções de estilo de vida baseadas em evidências com tratamentos alternativos.
A medicina de estilo de vida ainda é um modelo de cuidado novo, que tem um foco na qualidade de vida e na longevidade. Ela preconiza uma abordagem com médicos, nutricionistas, educadores físicos, “coachs” de saúde e bem-estar trabalhando em harmonia e com a participação ativa do paciente, respeitando seu momento, valores e preferências, visando uma adoção de hábitos de vida saudáveis (nos domínios do peso corporal, da alimentação, da prática regular de atividade física, no sono reparador, na interrupção do tabagismo, no etilismo com moderação e no controle do estresse mental).