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Procrastinação e auto sabotagem – como enfrentá-los

Vivemos em uma era marcada por múltiplas demandas, em que o tempo parece sempre escasso e a pressão por resultados é constante. Nesse cenário, dois fenômenos têm se tornado cada vez mais presentes: a procrastinação e a autossabotagem. Embora sejam experiências comuns a muitas pessoas, quando se tornam frequentes, acabam gerando frustração, sentimentos de incapacidade e um ciclo difícil de romper.
A procrastinação é frequentemente descrita como o ato de adiar tarefas importantes, substituindo-as por atividades de menor relevância ou prazer imediato. À primeira vista, pode parecer apenas preguiça ou desorganização, mas, na verdade, está muito mais relacionada à dificuldade de lidar com emoções como ansiedade, medo do fracasso ou até mesmo perfeccionismo. Já a autossabotagem se manifesta de maneira ainda mais sutil: são escolhas e atitudes, muitas vezes inconscientes, que acabam impedindo a própria realização. Pode ser o estudante que evita se inscrever em uma prova para não lidar com a possibilidade de reprovar, ou o profissional que posterga a entrega de um projeto por receio de não atender às expectativas.
Enfrentar esses comportamentos exige, antes de tudo, consciência. É preciso reconhecer os padrões pessoais que nos levam a adiar ou a criar barreiras internas diante de nossos objetivos. Um dos caminhos é observar os pensamentos recorrentes: “Não vou dar conta”, “Posso fazer depois”, “Não vai ficar bom o suficiente”. Esses diálogos internos revelam não apenas crenças limitantes, mas também o quanto a exigência excessiva pode paralisar.
Nesse ponto, a Logoterapia, abordagem criada por Viktor Frankl, pode trazer uma contribuição valiosa. Para essa perspectiva, a vida ganha sentido quando somos capazes de nos orientar por valores que transcendem o imediatismo das emoções e dos impulsos. Quando alguém toma consciência de que estudar, concluir um projeto ou cuidar da própria saúde está conectado a valores maiores, como crescimento pessoal, responsabilidade ou amor à família, a tarefa deixa de ser apenas uma obrigação e passa a ter um propósito mais profundo. Esse sentido é um combustível poderoso contra a paralisia da procrastinação e os mecanismos de autossabotagem.
Outro ponto fundamental é aprender a fragmentar as tarefas. Muitas vezes, o que gera a procrastinação é a percepção de que a meta é grande demais ou inalcançável. Ao dividir os objetivos em etapas menores, concretas e alcançáveis, cria-se um senso de progresso que motiva e sustenta o movimento. Além disso, o estabelecimento de rotinas claras e realistas auxilia na criação de hábitos consistentes, que reduzem a dependência da motivação momentânea.
É igualmente relevante ressignificar a relação com os erros. O medo de falhar, de ser julgado ou de não corresponder às expectativas é um dos grandes motores da autossabotagem. Quando compreendemos que falhar faz parte do processo de aprendizado, passamos a nos permitir arriscar, experimentar e crescer. A autocompaixão, aqui, é um recurso poderoso: olhar para si mesmo com gentileza, em vez de se punir de maneira rígida, abre espaço para novas tentativas e para a construção de uma trajetória mais saudável.
Por fim, é importante lembrar que enfrentar a procrastinação e a autossabotagem não significa eliminá-las de vez, mas aprender a lidar com esses comportamentos de forma mais consciente e assertiva. Todos nós, em algum momento, adiamos ou nos sabotamos. A diferença está em como escolhemos responder a essas situações: permanecendo paralisados ou utilizando-as como oportunidade de mudança.
Romper esse ciclo é possível. Com pequenas atitudes diárias, com o fortalecimento do sentido pessoal e com práticas de autorregulação de valores, é viável construir um caminho em direção a uma vida mais produtiva, equilibrada e, acima de tudo, mais coerente com aquilo que desejamos para nós mesmos.

Procrastinação* Artigo de Michele Silveira – Psicóloga Clínica, Logoterapeuta, Especialista em Saúde Mental e Transtorno de Ansiedade.

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